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A FAMÍLIA: um olhar para a mulher

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Joyce Cristina e Juliane Tozzo Campinas, 2020

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--CRIAÇÃO

--Para iniciarmos nossa conversa, nos voltemos às Sagradas Escrituras, no Antigo testamento, onde Deus cria Adão e Eva e os prepara para uma missão:

--“Por isso, o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gn 2, 24).

--No Catecismo da Igreja Católica (CIC) nº 2203, encontramos que, a partir da criação do homem e da mulher, Deus instituiu a família humana.

--Compreendendo que a constituição da família é obra de Deus e que juntos, por meio do matrimônio, são uma só carne, podemos olhar para a unidade da Santíssima Trindade, que sendo três, se fazem um. Ao olharmos para o mistério Trinitário, somos impelidos ao compromisso de viver em comunhão. Essa unidade nos chama a acolher e a transmitir as verdades da fé e a viver o amor recíproco. Portanto, somos convocados pelo próprio Deus a refletir a beleza da Trindade na família [1].

--Padre Paulo Ricardo destaca em uma de suas homilias dominicais que:

--“(...) o grande mistério da Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — quis fazer-se família humana conosco, de modo que podemos dizer que é nessa realidade que se encontra a salvação, ou seja, em nos tornarmos família com Deus, filhos de Deus” [2].

--Ao olharmos para a criação, percebemos que Deus criou o homem e a mulher com igual dignidade, mas com características próprias e complementares, para que se entreguem como dom um para o outro, realizando uma comunidade de amor e vida, e é esse amor que faz de cada pessoa a imagem autêntica da Trindade [1].

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--DEFINIÇÃO DE FAMÍLIA

--De acordo com o Dicionário Online de Língua Portuguesa, a definição do termo família é:

--“Grupo das pessoas que compartilham a mesma casa, especialmente os pais, filhos, irmãos etc” [3].

--A estrutura natural da família é formada por pai, mãe e filhos. Há, porém, famílias que apresentam uma configuração um pouco diferente, tais como mãe e filho, ou avó, mãe e filhos, ou avós e filhos, ou pai e filho, ou outros tantos exemplos. Tais situações ocorrem, porque nesses casos a família tradicional foi desfeita por alguma infelicidade (morte, divórcio dos pais, abandono, etc.), sendo tristes exceções e não a regra. Ainda assim, qualquer que seja essa formação, cada pessoa tem seu papel e o respeito aos membros da casa edifica a família.

--Nas Sagradas Escrituras, aponta-se como é importante o respeito na família e como são bem vistos aos olhos de Deus os filhos que honram e respeitam seus pais (Eclo 3, 3-7; 14-17). Também São Paulo traz a importância do amor e dos valores, bem como o que cada membro da família deve fazer, seja o pai, a mãe ou os filhos:

--“Esposas, sede solícitas para com vossos maridos, como convém, no Senhor. Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isso é bom e correto no Senhor. Pais, não intimideis os vossos filhos, para que eles não desanimem”. (Col 3, 12-21)

--Para o bem de seus membros e da sociedade em que vivem, a família possui diversas responsabilidades, direitos e deveres. Para a Igreja Católica, a família é uma comunidade de fé, de esperança e caridade, por isso é conhecida como Igreja Doméstica. Para reafirmar isso, encontramos algumas compreensões do Papa Emérito Bento XVI por ocasião do V Encontro Mundial das Famílias, nas quais enobrece a família, dizendo que é a sede da vida e do amor e onde, pelos pais, é transmitido aos filhos o dom inestimável da fé [1].

--Encontramos no CIC (2363) que a finalidade do matrimônio consiste no bem dos esposos e na transmissão da vida. Essas duas finalidades não podem ser separadas, pois tal separação compromete o futuro da família.

--O Papa emérito ainda ressalta que marido e mulher, na vivência do matrimônio, não dão qualquer coisa, mas a vida inteira. Por esse motivo, a fecundidade é, antes de tudo, um bem para os próprios cônjuges, para realizar o bem um do outro, experimentando a alegria de dar e receber. Em seguida, a fecundidade na procriação generosa e responsável dos filhos, sendo o dever dos pais a amabilidade e a educação cuidadosa e sábia. E, por fim, a fecundidade para a sociedade, porque a vida familiar “é a primeira e insubstituível escola das virtudes sociais, como: o respeito, a gratuidade, a confiança, a responsabilidade, a solidariedade e a cooperação” [1].

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--O SONHO DE DEUS: a Sagrada Família

--O matrimônio é uma vocação santa, porque reproduz a continuação do lar de Nazaré: modelo de toda família cristã. Por este motivo, a Sagrada Família deve ser sempre uma inspiração de santidade e caminho seguro para o céu. Dessa forma, “a família será um sinal eficaz da presença salvífica de Cristo e da Igreja no mundo” [4].

--Tão preciosa é a família, que Deus escolheu se fazer homem e nascer no seio de uma. Do ventre de Maria e aos cuidados de José, nasceu o menino Jesus, o verbo de Deus encarnado, formando a Sagrada Família, exemplo para todos nós. É verdade que a Sagrada Família não é uma família convencional: há um pai que não é biológico, uma mãe que é virgem e um filho que é Deus [2]. A princípio, poderíamos ficar desanimados em tentar imitá-los, contudo é importante ressaltar que a família tem uma base biológica, que são os vínculos sanguíneos, e uma base espiritual, que são os vínculos que se formam por meio da fé, da esperança e do amor [2].

--Mesmo tendo uma relação de proximidade e de privilégio com Deus, a Sagrada Família nunca foi favorecida e livre das dificuldades e sofrimentos humanos. Pelo contrário, passaram por várias tribulações, desde o início, com a concepção da virgem Maria, o deslocamento até Belém em tempo de Jesus nascer, as condições precárias para o nascimento do menino, a fuga para o Egito para escapar de Herodes, até o fim, com todos os sofrimentos de Jesus por nós e as dores de Maria, vendo o sofrimento do filho. Apesar de tantas dificuldades, a Sagrada Família não desistiu, se manteve firme na fé e obedecendo a Deus até o fim [5]. Jesus veio para o meio de nós para nos ensinar a ser família. Ele, sendo Deus, se fez menino para obedecer à própria lei divina. “É essa obediência que precisa estar presente no coração da família, essa disposição de sempre cumprir a vontade de Deus” [2].

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--EXEMPLO DE FAMÍLIA SANTA

--Pensando em casais que assumiram os compromissos do Sacramento do Matrimônio e formaram famílias santas, seguindo os exemplos da Sagrada Família, citaremos Santa Zélia Guérin e São Luís Martin, que são os pais de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face e de outras cinco religiosas.

--Encontramos na história desse casal um amor ardente a Deus e um fiel desejo de viver a vontade Dele. Ambos não tinham o desejo de se casar, mas de viver a vida religiosa. Por diversas razões não cumpriram tal desejo, mas podemos concluir que esta não era a vontade de Deus para eles. Conta-se na história que a mãe de Luís já conhecia Zélia, mas ela não sabia da existência de Luís. Eles se conheceram quando atravessavam a Ponte São Lourenço em Alençon (França). Três meses após este encontro, Zélia e Luís se casaram.

--Foram sempre muito fiéis a Deus e desejosos de viver a Sua santa vontade. Desse amor conjugal, tiveram nove filhos, sendo sete mulheres e dois homens. Dos nove filhos, quatro deles faleceram ainda na infância tomados por doenças, restando cinco filhas: Maria Luísa, Maria Paulina, Maria Leônia, Maria Celina e Maria Francisca Teresa, essa conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.

--Irmã Genoveva da Santa Face (sua filha Maria Celina) narra o grande amor que ela e suas irmãs percebiam entre seus pais [6]. Ela destaca: “mamãe tinha por meu pai tanta admiração quanto afeição e deixava-o exercer plenamente uma autoridade deveras patriarcal” (p. 16). Em outra ocasião: “meus pais tinham uma fé profunda e de ouvi-los conversar sobre a eternidade, sentiamo-nos, pequeninas ainda, inclinadas a considerar as coisas do mundo como pura vaidade” (p. 32).

--Zélia e Luís traziam no coração a certeza de que a educação das filhas não era para este mundo terreno, mas uma educação para o céu. E este foi o desejo mais profundo que plantaram no coração de suas filhas: o desejo do Céu.

--Pensemos agora: se Zélia Guérin não tivesse se entregado à vontade de Deus, certamente não teríamos essa família como modelo de santidade. Ao entregar-se aos desígnios daquele que ela tanto amava (Deus) Zélia pode construir uma bela família, amou seu esposo com todo o seu coração e pode inspirar em suas filhas o desejo da santidade. O fez de forma tão genuína que todas se consagraram a Deus na vida religiosa. Se isso não tivesse acontecido, certamente não teríamos Santa Teresinha como Doutora da Igreja e Padroeira das Missões, cujos escritos nos ensinam o caminho da pequena via [7].

--Também não teríamos uma de suas filhas, Maria Leônia, a “mais difícil”, como a própria Zélia muitas vezes a nomeou, em processo de canonização [8]. Maria Leônia foi a única das filhas que não foi para o Carmelo, mas se tornou religiosa na Ordem da Visitação e ali viveu seu processo de santidade.

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--MULHER: exemplos de dificuldades e superações

--Viver em família traz certas dificuldades para as mulheres, sejam elas a mãe, a filha, a irmã, a cunhada, a tia etc. Há medos, inseguranças e sofrimentos no relacionamento, nas escolhas, na diversidade de pensamentos, no aprendizado. Filhos que deixam as mães preocupadas, pais que preocupam as filhas, irmãs que não são amigas, falta de diálogo que afasta os membros da família... muitas são as dificuldades que uma mulher pode encarar dentro de casa. Ainda assim, que tenham sempre Nossa Senhora como exemplo de mulher para continuar firmes no caminho da fé.

--Admirando algumas mulheres em relação às suas famílias, exporemos alguns exemplos:

--Sara: conforme encontramos no livro de Tobias, enfrentava uma situação bem difícil: já havia se casado sete vezes e todos os seus maridos faleceram na noite de núpcias. Após fazer uma oração sincera a Deus, Sara conhece Tobias e se casam. Tobias não era daquela cidade e deveria voltar para a casa dos pais, e Sara, ao ir embora com seu esposo, recebe este conselho de seus pais:

--“recomendando-lhe que honrasse seus sogros, amasse o seu marido, educasse bem a sua família e governasse a sua casa conservando-se ela mesma irrepreensível” (Tb 10, 12-13).

--Sara sofreu bastante com as dificuldades e perdas de cada marido antes de Tobias, mas com a força da oração do casal, conseguiu vencer e cuidar da família.

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--Irmã Genoveva da Santa Face (Maria Celina): era a quarta filha de Santa Zélia e de São Luís. Ela viu todas as suas irmãs saírem de casa para viverem a vida religiosa no Carmelo. Também trazia o mesmo desejo em seu coração, mas após a morte de sua mãe e a ida de suas irmãs mais velhas para o Carmelo, ela se viu impelida a cuidar de seu pai, que já tinha uma idade avançada e estava doente, necessitando de seus cuidados. Mantendo contato com suas irmãs, levava seu pai para visitá-las e nutria por ele profundo amor e admiração. Após o falecimento dele, Celina segue o mesmo caminho de suas irmãs e entra para o convento. Maria Celina adiou seu sonho para poder se dedicar ao cuidado do pai.

--Maria Celina viveu com afinco o que diz nas Sagradas Escrituras:

--“Meu filho, ajuda a velhice de teu pai, não o desgoste durante a sua vida. Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes forte, pois a tua caridade para com teu pai não será esquecida” (Eclo 3, 14-15).

--Certamente o amor que ela demonstrou por seu pai não foi esquecido, pois sua própria irmã Santa Teresinha narra, o quão feliz Celina foi ao entrar para o Carmelo, como ela e suas irmãs estavam continuamente juntas e, no fim de sua vida, pode aliviar os sofrimentos de Teresinha, estando com ela no leito de morte [7].

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--Santa Mônica: desde menina desejava se dedicar à vida de oração, mas seus pais a fizeram se casar. Viveu muitas dificuldades no casamento com o marido, que apesar de trabalhador, não tinha religião, era grosseiro e mulherengo. Também teve muitas dificuldades com o filho, Agostinho, por quem rezou muitos e muitos anos por sua conversão. Tão persistente foi na fé e na oração, que conseguiu alcançar a graça de que o marido fosse batizado e o filho convertido, sendo hoje, um grande santo da Igreja [9].

--Na vida de Santa Mônica, temos como exemplo a persistência na oração. Hoje, quantas esposas e mães lutam pela conversão de suas famílias, são fiéis a Deus, a Santa Igreja e não deixam a oração, pedem a Deus pela a salvação dos seus. Santa Mônica nos ensina a nunca desistir, pois Nosso Senhor atende às nossas orações, como Ele mesmo diz “pedi e recebereis” (Mt, 7, 7), qual é o pai que não deseja a conversão do coração de seus filhos?

--E para finalizar nos voltemos à grande mulher, a Virgem Maria, que desde muito nova se entregou por completo à vontade de Deus, que talvez tenha sentido medo, mas em nada se deixou abalar; que cuidou de Jesus, mas ao mesmo tempo estava sendo cuidada pelo próprio Deus na figura que seu amado esposo, José; a Virgem Maria que viu seu próprio filho ser maltratado, pregado e morto em uma cruz, mas em tudo isso se ofereceu a Deus.

--Todos os exemplos citados nos parágrafos acima, de mulheres que perseveraram e viveram a vontade de Deus, tiveram como maior exemplo a Mãe de Jesus. Que nós também, nesta vida terrena, nessa caminhada rumo ao céu, tenhamos como exemplo essa mesma Mulher.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Papa Bento XVI. Visita Pastoral à Arquidiocese de Milão e VII Encontro Mundial das Famílias (1-3 de junho de 2012). Parque de Bresso, 3 de junho de 2012. Disponível em: http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2012/documents/hf_ben-xvi_hom_20120603_milano.html. Acesso em: abr. 2020.

  2. Padre Paulo Ricardo. Homilia Dominical: A santa obediência da família de Nazaré. Disponível em: https://padrepauloricardo.org/episodios/a-santa-obediencia-da-familia-de-nazare. Acesso em: abr. 2020.

  3. Dicionário Online da Língua Portuguesa. Disponível em: https://www.dicio.com.br/familia/. Acesso em: abr. 2020.

  4. GARIBALDI, Ricardo. Lares Autênticos, não se improvisam. 5ª ed. Porto Alegre/RS: Edições Paulinas, 1969.

  5. Homilia da missa da Sagrada Família, liturgia de 29 de dezembro de 2019. Disponível em: https://domtotal.com/religiao-evangelho-dia.php?data=2019-12-29.

  6. Irmã Genoveva da Santa Face. Zélia Guérin, a mãe de Santa Teresa do Menino Jesus. São Paulo: Cultor de Livros, 2018.

  7. Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face (Santa Teresa de Lisieux). História de uma Alma. Dois Irmãos/RS: Minha Biblioteca Católica, 2018.

  8. JIMÉNEZ, Marta. Conheça a irmã “difícil” de Santa Teresa de Lisieux que inicia o caminho aos altares. Disponível em: https://www.acidigital.com/noticias/conheca-a-irma-dificil-de-santa-teresa-de-lisieux-que-inicia-o-caminho-aos-altares-36416. Acesso em: abr. 2020.

  9. ACI Digital. Santa Mônica. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/santa-monica/. Acesso em: abr 2020.

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