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A veneração dos católicos à Virgem Maria

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Rosiane Maria de Souza

Vanessa Leite Braz

Campinas – SP, 2020


“Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram! ” - (Lc 11, 27)

--No princípio de tudo, foi através de uma mulher com algumas características (virgem, imaculada, noiva de um homem e que recebeu a visita de um anjo) que a perdição entrou nesse mundo. Essa mulher chamava-se Eva. E nós, sendo biologicamente filhos de Eva, por consequência da sua desobediência, recebemos como herança o pecado original [1].

--Mas Deus, em sua misericórdia para conosco, muitos séculos depois, no dia da Anunciação, quis salvar o mundo e eliminar essa distância infinita que havia entre Ele e a humanidade. E, para que isso acontecesse, Deus fez a cena se repetir – Ele escolheu uma mulher com as mesmas características de Eva: virgem, imaculada, noiva de um homem e que recebeu a visita de um anjo. E essa mulher chamava-se Maria [1, 2].

--Assim como uma mulher (Eva) foi a porta pela qual o pecado entrou no mundo, também uma mulher (Maria) foi a porta através da qual a Salvação entrou no mundo [1]. E essa salvação aconteceu através da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fazendo homem, como sinal do amor de Deus Pai por nós, assim como descrito por São João:

“Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê não pereça, mas tenha vida eterna. ” - (Jo 3, 16)

--Para que o plano de salvação acontecesse, Deus Pai quis o consentimento daquela que seria a Mãe do Senhor, assim como nos apresenta o Catecismo da Igreja Católica (CIC):

“Quis o Pai das misericórdias que a encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida. ” (CIC 488)

--Sendo assim, diferentemente de Zacarias, que foi comunicado sobre a vinda de seu filho, João Batista (Lc 1, 13), para Maria foi pedido o Seu consentimento [1].

--É importante ressaltar que, para ser a Mãe do Senhor, “Maria foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função” (CIC 490), ou seja, ao longo da história da Santa Igreja, tomou-se consciência de que Deus cumulou Maria de graças para que Ela pudesse exercer a função à qual foi predestinada (CIC 491).

--O Papa Pio IX, em 08 de dezembro de 1854, através da Bula “Ineffabilis Deus”, na definição do dogma de fé da Imaculada Conceição, apresenta, por inspiração divina, o seguinte ponto acerca da posição e privilégios de Maria nos desígnios de Deus:

“Assim Deus, desde o princípio e antes dos séculos, escolheu e pré-ordenou para seu Filho uma Mãe, na qual Ele se encarnaria, e da qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, nasceria; e, de preferência a qualquer outra criatura, fê-la alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer nela com singularíssima benevolência. Por isto cumulou-a admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, ela possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois da de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender. [3]”

--Em virtude da predestinação de Maria e do fato de Deus a ter cumulado de graças, como apresentado acima, reforça-se o fato de que Jesus não poderia ter nascido de uma mulher qualquer. Ressaltando assim que, desde o começo, Maria fora preservada do pecado: uma graça extraordinária deu-se na criação da alma de Maria, fazendo com que Ela tenha sido eximida da lei universal do pecado original no mesmo instante em que Ana, sua mãe, a concebera em seu seio. A herança perdida por Adão foi recebida por Maria, fazendo com que, desde o início do seu ser, esta estivesse unida a Deus [2].

--E essa união é percebida pelo Arcanjo Gabriel no momento da Anunciação, pois somente a Virgem Maria é, nas Sagradas Escrituras, elogiada por um anjo. No momento em que o Anjo saúda Maria e diz “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo! ” (Lc 1, 28), ele a vê e se surpreende, pois no coração daquela mulher há um amor por Deus maior do que o dele. Essa surpresa ocorre porque, na hierarquia do amor, os anjos são superiores a nós, uma vez que a maior pobreza do homem é a falta de amor por Deus. Mas Maria superou essa hierarquia, fazendo com que os anjos muitas vezes, ao vê-la, perguntavam-se entre si: “Quem é esta? ” [1, 4].

--Resultando de todo esse amor, Maria gerou o corpo de Cristo, acolhendo a vontade divina da Salvação. E assim, entregando-se ela mesma para a pessoa e obra de seu Filho, servindo, dependendo d’Ele e com Ele, em todo o mistério da Redenção [2]:

“Como diz Santo Irineu, ‘obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano’. Do mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem como ele: ‘O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade, a virgem Maria desligou pela fé’. Comparando Maria com Eva, chamam Maria de ’mãe dos viventes’ e, com frequência, afirmam: ‘Veio a morte por Eva e a vida por Maria’. ” (CIC 494)

--É muito comum percebermos que algumas pessoas se escandalizam com o fato dos católicos glorificarem a Virgem Maria. Mas, a partir de tudo o que foi dito acima, a não ser que negássemos a divindade de Jesus Cristo, não existe uma razão para não chamarmos a Virgem Maria de Mãe de Deus e, por conseguinte, para amarmos Maria com o maior amor que nossa humanidade nos possibilita. O rebaixamento da honra de Maria ao nível de “uma boa mulher” é o rebaixamento da honra de Deus, uma vez que Maria é, de longe, uma das mais nobres obras de Amor e misericórdia de Deus [2].

--Mas não se deve esquecer de que para tudo na vida existe uma hierarquia, e na Igreja isso não é diferente! Sendo assim, em primeiro lugar sempre estará a Santíssima Trindade: Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. E somente Ele pode receber adoração, somente Ele é digno, pois sem Ele nós não seríamos criados. Este culto de adoração que prestamos a Deus tem o nome de “latria”. A latria só cabe a Deus! Quando, no entanto, colocam-se pessoas, coisas e situações no lugar de Deus, como se fossem deuses, comete-se um pecado grave: a idolatria, que é a adoração a falsos deuses [5].

--A relação que os católicos possuem com a Virgem Maria e com os santos é diferente, pois eles possuem uma importância especial para nós: com a Virgem Maria, por tudo o que já foi descrito acima, e, com os Santos, pela vivência que eles tiveram das virtudes, pois viveram neste mundo e conseguiram vencer o pecado, honrando profundamente a Deus [5].

--Vale ressaltar que em tempos antigos não existia tanto acesso à escrita e à leitura, portanto, os ícones, as estátuas, os desenhos sempre foram formas de expressão da fé, como, por exemplo, os vitrais das antigas catedrais. Em outras palavras, tais imagens funcionavam como uma escola de santidade para a população, da qual a grande maioria das pessoas não sabia sequer ler! E sempre houve a compreensão de que essas formas eram maneiras de conduzir a humanidade para Deus e não para colocar outras coisas no lugar Dele [5].

--Sabe-se que a Virgem Maria, quando comparada à glória de Deus, é inferior a um átomo, mas somente Ela é maior que toda a humanidade, maior que todos os Santos juntos, por esse motivo Ela recebe uma veneração especial: a “hiperdulia”. Apenas Ela recebe essa veneração, pois somente Ela é a Mãe de Deus! Já os Santos recebem uma veneração menor, chamada “dulia” [5].

--Por fim, Deus Filho no auge do Seu Amor de Cruz, nos entregou a Virgem Maria como Mãe da humanidade. Esse ato de amor de Deus para conosco pode ser visto no Evangelho de São João:

“Jesus, então, vendo a mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à mãe: ‘Mulher, eis teu filho! ’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis tua mãe! ’. E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa”. – (Jo 19, 26-27)

--Assim como nos recorda o Papa Francisco em sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, a Virgem Maria é a Estrela da Nova Evangelização (expressão esta que foi criada por São João Paulo II), ou seja, Ela possui um papel extraordinário na geração do corpo de Cristo, a Santa Igreja [6]. Ela desempenha este papel de Mãe! Mãe dos que creem e daqueles que são gerados na fé. Mesmo que os seus filhos A rejeitem, Ela não os rejeita [1], cumprindo assim seu papel de Mãe da humanidade deixado por Jesus Cristo. Os dizeres do Papa Francisco nos recordam o que foi dito por São Luís Maria Grignion de Montfort: “foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e também por meio dela que Ele deve reinar no mundo” [4].


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Padre Paulo Ricardo. A Virgem Maria mãe da Igreja – Pe. Paulo Ricardo (17/05/15). 2017. (53m01s). Disponível em: <https://youtu.be/93n7fTKj4-Q>. Acesso em: 12 mar. 2020.

  2. TRESE, Leo John. A Encarnação. IN: TRESE, Leo John. A fé explicada. 14. ed. São Paulo: Quadrante, 2014.

  3. MONTFORT, Associação Cultural. Bula "Ineffabilis Deus" - Dogma da Imaculada Conceição. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/bra/documentos/decretos/20060220/>. Acesso em: 25 abr. 2020.

  4. MONFORT, São Luís Maria Grignion. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. 46. ed. Petrópolis: Vozes, 2016.

  5. ACADEMIA MARIAL. Sobre latria, dulia e Hiperdulia. Disponível em: < https://www.a12.com/academia/catequese/sobre-latria-dulia-e-hiperdulia>. Acesso em: 21 fev. 2020.

  6. PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Roma, 2013.


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