top of page

A Vida de Oração

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Victória Rodrigues Augusto

Gabriel de Almeida Porto

João Vítor Peres Alvarenga

Campinas – SP, 2019

A oração

Por definição, segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC) a oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes (CIC 2559). A nossa relação com Deus é estabelecida por meio da oração, a qual brota dos nossos corações por ação do próprio Deus, que nos inspira e nos chama ao Seu encontro, sendo assim, uma ação entre Deus e o homem.

Dependendo do tempo que temos de caminhada na Fé, não é tão simples para nós entendermos essa definição:

“A oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria. “ – Santa Teresinha do Menino Jesus

Considerando a definição trazida pelo Catecismo da Igreja Católica (CIC 2558) e também os dizeres de Santa Teresinha, temos certeza de que a oração é a intimidade com Deus. Por meio da oração é que somos chamados a conhecer, a amar e a estar mais perto de Deus. É o momento de estarmos juntos, de rezarmos, partilharmos, e mostrarmos aquilo que realmente somos.

Intimidade com Deus

Para conquistar a intimidade com alguém é necessário esforço diário, convivência. A intimidade se torna real quando estamos com quem gostamos, quem amamos, quem frequenta nossas casas e quem confiamos. Nós podemos nos perguntar: Temos alguma amizade assim? Conhecemos alguém que conseguimos nos abrir, que podemos ser verdadeiros e sinceros, sem usarmos de qualquer máscara para simplesmente agradar? Essas pessoas nos aceitam porque é recíproco, nós a conhecemos e elas nos conhecem, sabem as nossas vontades, nossos pensamentos, nossa maneira de agir. Existem amigos que basta um olhar para entender tudo que se passa conosco.

Nos referimos a uma intimidade pura e sincera, que precisamos buscar com mais um de nossos amigos, o melhor de todos eles, Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus quer olhar-nos e quer que nós devolvamos este olhar para Ele livremente, como o melhor dos amigos, pois a oração é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. “Deus tem sede de que nós tenhamos sede Dele” (CIC 2560). Se atingirmos esse nível de intimidade com Deus o nosso convívio sobrenatural com Ele se tornará palpável e verdadeiro.

A intimidade com Deus é estabelecida por meio da oração, que também é uma resposta que damos ao Seu amor. Deus vem ao nosso encontro, nos toca e mostra Seu amor por nós, ou seja, durante a oração não é nós que estamos chamando a Deus, e sim, Deus quem nos chama e nós respondemos ao Seu chamado.

Perseverança

É comum que as dificuldades apareçam ao buscarmos a intimidade com Deus em nossas orações, nos perguntamos se realmente somos ouvidos, pensamos que o tempo da oração pode ser um tempo perdido ou que essa prática não nos levará a nada. Mas isso não é verdade! Precisamos lembrar que é por meio da perseverança que conquistamos muitas coisas em nossas vidas. Temos alguns exemplos práticos: o bebê que engatinha e finalmente consegue os primeiros passos; a criança que cai inúmeras vezes até finalmente aprender a pedalar sozinha; o trabalho suado, porém entregue com o melhor que poderia dar de si. São muitos os exemplos de conquistas que só valem a pena porque há persistência. Portanto, não desconfiemos do poder da oração. Deus nos escuta sempre! Ainda que o nosso pedido não seja atendido imediatamente, até porque o tempo de Deus é diferente do nosso e Ele tem um plano perfeito para nós.

Sendo assim, é importante que a gente avalie os nossos pedidos em nossas orações, Deus sendo bom e sonhando com a nossa salvação nos concederá coisas que nos levem a Santidade. Então com certeza afirmamos, Ele apenas concederá o que pedimos se isso for ajudar em Seu plano para nossa salvação, como é explicado no Catecismo da Igreja Católica:

“Com efeito, “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Deus quer a salvação de todos pelo conhecimento da verdade. A salvação está na verdade. Os que obedecem à moção do Espírito de verdade já estão no caminho da salvação; mas a Igreja, a quem esta verdade foi confiada, deve ir ao encontro de seu anseio, levando-lhes a mesma verdade.” (CIC 851)

Deus sendo um Pai Bom e Perfeito nos dá o livre arbítrio para que possamos guiar nosso caminho, mas é certo que Ele tem um plano maravilhoso para nossas vidas e sabe o que é melhor para nós, uma vez que nos criou e nos ama inteiramente. Considerando essas verdades vemos que o melhor a se fazer é pedirmos para Ele que seja feita Sua vontade para nossas vidas, que Ele nos guie rumo ao céu. Podemos contar também com o auxílio da Igreja que nos orienta e nos ensina dizendo que a oração tem três sentidos para nossa vida: como Dom de Deus, como Aliança e como Comunhão.

Para entendermos como oração é um Dom de Deus precisamos nos exercitar para que a humildade seja a base do nosso diálogo com Deus. Segundo o Evangelho de São Mateus devemos fazer as nossas orações com simplicidade e sinceridade, pois o Nosso Senhor sabe o que existe nos nossos corações:


“Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lhe pedirdes. ”- (Mt 6, 7-8)

Do mesmo modo que não podemos esquecer que Deus é o Nosso Senhor e Criador a quem devemos todo o respeito, também não é necessário vestirmos máscaras, Deus conhece nosso coração e nos quer amigos exatamente como nós somos. A oração humana vem do coração, como já diz no Evangelho:

“Porque onde está o seu tesouro, aí também estará o seu coração. ”- (Mt 6, 21)

O homem reza com gestos e palavras, com todo seu corpo: “É o coração que reza. Se ele está longe de Deus, a expressão da oração é vã” (CIC 2562). O coração é a casa de Deus, um centro escondido, inacessível a qualquer coisa ou qualquer um. Somente o Espírito de Deus pode sondá-lo e conhecê-lo.

Visto isso, também devemos lembrar de nos atentar ao que estamos colocando em nosso diálogo com Deus. “Nem sabemos o que seja conveniente pedir” (Rm 8, 26), sendo isso uma verdade incontestável, seria mais conveniente a nós que pedíssemos a graça de compreender com humildade o que Deus quer de nós e não somente o que queremos Dele. Se nos é necessário pedir, façamos com sabedoria. São Mateus afirma que Deus em sua infinita bondade não nos deixará desamparados:


“Pedi e vos será dado. (...) Pois, todo o que pede, recebe. (...) Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus. ” - (Mt 7, 7-11).

Portanto, a humildade é a disposição para receber gratuitamente o Dom da oração. “O céu é para os humildes. Têm espírito de pobreza os que nunca esquecem que tudo o que são e possuem lhes vem de Deus” [1]. “O homem é um mendigo de Deus” (CIC 2559), e nesse caso não devemos cessar de pedir, se for para nossa salvação ou para a salvação do outro, mas com a humildade do mais singelo dos mendigos.

Nós devemos fazer sempre o exercício de pensar que a oração é dada por Deus para quem se humilha e deseja conhecê-Lo. Precisamos sim nos humilhar, para não mais errar fazendo o que queremos de nossas vidas, mas acertar fazendo aquilo que Nosso Pai espera de nós.

A oração vem do coração, que é o lugar do encontro de Deus conosco. O coração é o lugar da Aliança, pois a oração cristã é a relação de Aliança entre Deus e o homem em Cristo (CIC 2564). A oração é a relação viva dos filhos de Deus com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Por meio de Cristo e do Espírito Santo estamos habitualmente na presença de Deus três vezes Santo e também em Comunhão com Ele. A Comunhão com Deus por meio da oração é possível porque pelo sacramento do Batismo nos tornamos um mesmo ser com Cristo (CIC 2565).


Tipos de Oração

Então sabemos que temos que nos dedicar a oração, para estarmos mais pertos de Deus. Podemos conversar com Deus à exemplo de Moisés “Como um homem fala com um amigo” (Ex 33,11). A oração pode acontecer de duas maneiras: oração mental e oração vocal.

A oração vocal se refere às orações já existentes: Ave-Maria, Pai-Nosso, jaculatórias, salmos, terços, músicas, qualquer fórmula que já exista e nos leva para mais perto de Deus. A oração mental é o falar com Deus espontaneamente e no silêncio, ou seja, mentalmente. É o momento em que direcionamos nosso olhar para Deus e Ele entende nosso coração, porque sabe e conhece nossos pensamentos e sentimentos, sem nenhuma fórmula fixa ou prescrita.

As duas maneiras são importantíssimas, mas pensemos juntos, quanto mais bonita será nossa oração vocal se nossa oração mental for ainda melhor? Ou seja, se pensamos sempre em amar a Deus e esse é o desejo ardente do nosso coração, também iremos verbalizar orações que demonstrem esse amor puro e sincero: “Penso que todos nós gostaríamos de ter com frequência um diálogo espontâneo com Deus. (...) Mas a verdade é que nem sempre conseguimos. Pode ser até que já desistimos.” [2].


Importância da Oração para a Igreja

A oração é importante para mantermos um relacionamento íntimo e amoroso com o Nosso Senhor, mas além disso, ela também tem papel importantíssimo para a nossa Fé Católica. É a oração que sustenta a Igreja, o Santo Papa e todos nós fiéis.

A nossa Fé não tem sentido se não amamos a Deus e não quisermos estar em contato com Ele frequentemente. Grande é o mistério da fé. A Igreja a professa no Símbolo dos Apóstolos e o celebra na Liturgia sacramental, para que a vida dos fiéis seja conforme a Cristo no Espírito Santo para a glória de Deus Pai. Esse Mistério exige que os fiéis nele creiam, celebrem-no e dele vivam numa relação viva e pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. (CIC 2558). É importante então, que pela oração, nós busquemos sustentar a fé nos Mistérios da Santa Igreja, entenda que sem a oração nada vai bem, inclusive a Santa Igreja e seus fiéis.


Vida de Oração

A vida de oração é uma constância de querer estar sempre com Deus, se a oração é elevar a alma a Deus, a vida de oração é o hábito que se cria a fim de elevar a alma a Deus em todos os momentos de nossas vidas. Porém, não se trata somente de estar em oração em todos os momentos, mas sim de criar o hábito de rezar (falar com Deus) todos os dias.

No Evangelho de São João o Senhor nos diz: “Sem mim nada podereis fazer” (Jo 15, 5). Sem a oração, graça e força de Deus, somos impotentes de realizar boas obras e de ter Nosso Senhor como amigo, já que a amizade com Ele se forma através de diálogo, amor e intimidade.

A fim de melhor entendimento, enumeramos algumas dicas práticas que podem nos auxiliar no momento de oração:


1. Hora e Lugar:

A escolha do tempo e da duração da oração mental depende de uma vontade determinada. (...) Não fazemos oração quando temos tempo: reservamos um tempo (...) com a firme determinação de (...) não o tomarmos de volta (CIC 2710).

Jesus mesmo nos ensina, “Quando fores orar, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em segredo.” (Mt 6, 6). O lugar pode ser um quarto, uma capela, um jardim, uma montanha durante uma excursão, o importante é que possa estar a sós e tranquilo (não na cama deitado, pois acabaremos dormindo).

A oração exige dedicação, podemos compará-la ao exercício físico. Imaginemos um homem sedentário que resolve começar a correr para exercitar o seu corpo, ele não conseguirá correr 10 Km no primeiro dia, será necessário que ele inicie com um percurso menor e aos poucos aumente, para que seu corpo consiga acompanhar. Com a nossa vida espiritual acontece algo parecido, precisamos treinar a nossa alma e nossa concentração para estarem em contato com Deus. Então, uma pessoa que não tem o costume de fazer orações, dificilmente conseguirá iniciar com um tempo de 40 minutos, ou se inicialmente conseguir, posteriormente irá falhar, pois não estava acostumada, e irá desanimar. Sendo assim, é recomendado que no início nós dediquemos um tempo pequeno para a oração, por exemplo, cinco minutos. E após alguns dias, quando formos sentindo em nossos corações a necessidade de mais tempo, então daremos mais tempo a Deus.


2. Ato concreto:

  • Inicie com um sinal da cruz, reze um Pai-Nosso ou uma Ave-Maria, e se coloque na presença de Deus;

  • Depois comece o diálogo com simplicidade “Senhor, me ajude a falar contigo”, seja sincero com Cristo “Jesus, não sei o que dizer” ou “Meu Deus, me desculpe, mas hoje vou começar pedindo uma coisa muito importante” – Se não tiver nada a dizer faça como o rapaz da história de São Josemaria que só abria a porta da igreja e dizia: “Jesus, aqui está João, o leiteiro! [3]”;

  • Então agradeça, peça perdão e faça seus pedidos a Deus;

No momento da oração podemos levar um livro de orações ou reflexões espirituais, pois pode ser que não tenhamos o que dizer a Deus, então escutamos a voz Dele por meio da leitura. Pense nisso como uma “pista de decolagem”, para alguns a pista tem que ser mais longa, para outros mais curta. O importante é que após um trecho da leitura ter tocado nosso coração, a gente pare e faça um esforço para refletir sobre aquilo. Exemplo: “Um pequeno ato, feito por amor, quanto não vale!” [2]. Fale com Deus sobre isso, se pergunte: “Senhor quantos atos eu poderia ter feito com mais amor hoje?”. A música também pode nos ajudar a orar, a refletir e a nos questionar de muitas coisas, assim como a vida dos Santos, que nos inspirar a sermos como eles e fazermos tudo para maior honra e glória de Nosso Senhor.

“A partir do dia em que encontrou Cristo no caminho de Damasco, São Paulo não teve outra preocupação senão imitá-Lo, viver com Ele e para Ele, identificar-se com Ele. A partir desse momento, seu esforço constante foi, o de realizar em si mesmo todos os traços da fisionomia do Salvador e de abraçar cada vez mais forte o objeto de seu amor. Segundo sua própria palavra, ele fora agarrado por Cristo em meio a seu curso; Em vez de segui-Lo como um cativo, é abandonar-se passivamente à ação desse Vencedor, quis que sua alma fosse a imagem viva da alma de seu Mestre [4]. ”

Que assim como Saulo, posteriormente o Apóstolo Paulo, possamos, após cada momento íntimo com Nosso Senhor, ter a certeza de que valerá a pena mudarmos toda nossa vida para seguirmos a Cristo, e que assim como esse Santo não deixemos Deus nos esperando. Que a Virgem Maria nos ajude a perseverar!


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. TRESE, Leo. A fé explicada. 14. ed. São Paulo: Quadrante, 2015.

  2. FAUS, Pe. Francisco. Para estar com Deus: Conselhos de Vida Interior. 3ª Edição. São Paulo: Cultor de Livros, 2012.

  3. ESCRIVÁ, JOSEMARIA. Relatos Bibliográficos – A história de João, o leiteiro. Disponível em: <https://opusdei.org/pt-br/article/a-historia-de-joao-o-leiteiro/>. Acesso em: 5 nov. 2019.

  4. TRICOT, Alphonse Eile. São Paulo: O Apóstolo dos Gentios. Tradução: Pablo Pinheiro da Costa. Dois Irmãos. RS: Biblioteca Católica, 2019.

Commentaires


Les commentaires ont été désactivés.
bottom of page