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A vitória de Cristo em nós

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Wandrey Lacerda de Sousa

Helder Henrique Viana Batista

Campinas- SP, 2020


“Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem” - (Is 1, 16)

--Como ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC 293), Deus - o Nosso Pai - criou todas as coisas por pura bondade e amor para que pudessem manifestar e comunicar a sua glória: Aperta manu clave amoris creaturae prodierunt - Aberta a mão pela chave do amor, as criaturas surgiram. Dentre todas as criaturas, o ser humano é a única que Deus quis em si mesma (CIC 356), concedendo a cada um de nós sermos imagem e semelhança d’Ele (Gn 1, 27). Ele não precisava nos ter criado, mas fez cada indivíduo para participar de sua bondade e amor, como um ato generoso de sua parte:

Não foi por nenhum motivo de interesse que Deus nos criou, pois nós lhe somos absolutamente inúteis; foi unicamente para nos fazer bem, em nos facultando com sua graça, participar de sua glória; e foi por isso, Filoteia, que ele te deu tudo o que tens: o entendimento, para o conheceres e adorares; a memória, para te lembrares dele; a vontade, para o amares; a imaginação, para te representares os seus benefícios; os olhos, para admirares as suas obras; a língua, para o louvares, e assim as demais potências e faculdades” [1]

--O ser humano tinha tudo para viver feliz no Paraíso: a amizade de Deus. Não é belíssimo imaginar que Deus, sendo bom, criou-nos todos para sermos felizes, para sermos amigos d’Ele? Também nos ensina o Catecismo que o homem só pode viver esta amizade com livre submissão a Deus (CIC, 396). Isso fica claro quando Ele proibiu o Homem de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Entretanto, por tentação diabólica, Adão e Eva pecaram e a amizade entre o ser humano e Deus foi rompida. O Homem desobedeceu a Deus, usou mal a sua liberdade. Como consequência, muitos males atingiram o mundo: o fratricídio realizado por Caim contra Abel (Gn 4, 3-15), adultérios, guerras, violências e tantas outras coisas que nos envolvem em nossos dias.

--Uma visão pessimista poderia nos fazer pensar que Deus errou ao criar o ser humano. Porém, na verdade, o que está errado é pensar que Deus tenha errado. Ao contrário, Ele sempre se aproveita de todas as situações para que cada pessoa volte o olhar a para sua Face:

“Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça. ” - (Rm 5, 20)

“Deus não quer a morte do pecador, antes, quer que se converta e tenha vida. ” -----(Ez 18, 23)

“Deus não deixa de ser bom e, por isso, fecha os olhos aos pecados dos homens, pois quer que se arrependam. ” - (Sb 11, 23)

--Se o pecado de Adão foi grande o suficiente para não ter lugar para a raça humana no Paraíso, a bondade de Deus se revelou muito maior ao nos conceder que Jesus, Nosso Senhor e Salvador, pudesse vir ao mundo nos resgatar. É o que entoamos todo Sábado Santo na Vigília Pascal: “Ó feliz culpa, que mereceu tal e tão grande Redentor”. Eis a grande prova de amor que Deus nos concedeu: “Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5, 7-8).

--Ao contrário de Adão e Eva, Cristo aderiu à vontade do Pai, “foi obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 8). Ele, o Sumo Pontífice, abriu-nos as portas do Paraíso novamente, reatou a amizade entre o ser humano e Deus, libertou-nos do pecado e nos concedeu vida nova. Nosso Senhor Jesus Cristo nos resgatou com o preço de Seu Preciosíssimo Sangue. É por isso que o chamamos de Senhor. “Senhor” diz respeito àquele que tem direito de propriedade sobre alguma coisa, domínio, posse, autoridade sobre algo ou alguém. O preço que Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, pagou pela liberdade do ser humano é muito alto. É por isso que cada um deve fazer um exame de consciência e permitir que Jesus exerça sua autoridade sobre cada um de nós.

--Nas Sagradas Escrituras é possível notar que os Apóstolos reconheciam a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, uma vez que ele dominava a natureza, expulsava demônios, curava os doentes… (CIC, 447). A Tradição da Igreja também sempre reconheceu que Jesus é o Senhor de todas as coisas, como se lê no CIC:

“Desde o princípio da história cristã a afirmação do Senhorio de Jesus sobre o mundo e sobre a história significa também o reconhecimento de que o homem não deve submeter sua liberdade pessoal, de maneira absoluta, a nenhum poder terrestre, mas somente a Deus Pai e ao Senhor Jesus Cristo. “A Igreja crê... que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e Mestre” (CIC, 450).

--Assim, cada um de nós precisa fazer o que se lê em Isaías 1, 16: “Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem”, como uma resposta generosa ao amor infinito que Deus tem por cada um de nós. “Cessar com o mal” é uma busca constante por romper com tudo aquilo que destrona o Cristo de nossas vidas, de nosso coração: o pecado, vícios, práticas incoerentes com a fé cristã. Nesse sentido, faz-se necessário abandonar as práticas que não reconhecem Jesus como Nosso Senhor e Salvador. Todo cristão tem por dever imitar a Nosso Senhor Jesus e isso implica em configurar o nosso coração ao d’Ele: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20), como afirmou São Paulo.

--Existem aqueles que querer unir o seguimento a Nosso Senhor com outros credos que são incoerentes com a fé católica. Infelizmente é comum encontrar cristãos com pouca formação que frequentam a Santa Missa aos domingos e durante a semana vão a centros espíritas, ou em entidades pertencentes a outras denominações cristãs; que até acreditam em Deus, mas acreditam que o seu futuro pode ser revelado em horóscopos, búzios, tarô, cristais. Em contrapartida, a Palavra de Deus é clara:

Não vos dirijais aos espíritas nem aos adivinhos: não os consulteis, para que não sejais contaminados por eles. Eu sou o Senhor, vosso Deus. - (Lv 19, 31)

--Por outro lado, existem pessoas que se acham “super espirituais” porque abraçam árvores e não querem matar e os animais para se alimentar. Ora, Deus nos concedeu a natureza para que a governássemos (Gn 1, 26-30). Obviamente que não se deve destruir árvores e matar animais arbitrariamente, sem um motivo justo e necessário, mas não está adequado passar fome ou prejudicar a própria saúde com a justificativa de não querer fazer mal a um animal. O Nosso Senhor e Salvador assumiu um corpo humano, não o de uma vaca, de um macaco ou de uma árvore. Deus se fez Homem. Temos que preservar a natureza, mas tendo em mente que o ser humano também faz parte dela e é a criatura mais amada, a mais importante. Ninguém está impedido de ser vegetariano, por exemplo [2], mas não é adequado colocar a natureza acima de Deus e de nenhuma pessoa. A natureza é o presente de Deus aos seres humanos. Não podemos fazer como aquela noiva insensata que ganha um anel de seu noivo e se fia mais no presente do que naquele que a presenteou, desprezando-o.

--Em suma, cada um deve fazer um exame de consciência e abandonar todos os vícios, como o uso de drogas e o destempero no consumo de álcool; as práticas sexuais fora do matrimônio, incluindo a pornografia e a masturbação; a soberba. A lista não tem fim (CIC 2083-2557). As renúncias necessárias para seguir a Jesus Cristo nem sempre trarão sensações gostosas, lágrimas ou “fervorinhos”. Porém, é necessário pedir-Lhe a graça de uma decisão firme para ter uma vida santa, pura, longe do pecado: “Domine!’ – Senhor! – ‘si vis, potes me mundare’” – se quiseres, podes curar-me. – Que bela oração para que a digas muitas vezes, com a fé do pobre leproso, quando te acontecer o que Deus e tu e eu sabemos” – Não tardarás a sentir a resposta do Mestre: ‘Volo, mundare!’ – Quero, sê limpo! ” [3, ponto 142]

--É claro que o homem não consegue sustentar tantas renúncias sozinho. Por conhecer nossas limitações Cristo nos deixou muitos recursos para O encontrarmos: os Sacramentos, sinais visíveis do seu Amor; a doutrina da Igreja e o testemunho dos Santos; a Virgem Maria. Assim, cabe a nós “aprender a fazer o bem” estudando a história e a doutrina da Igreja; buscar uma vida virtuosa, que agrade a Deus; e a vivência constante dos Sacramentos, principalmente a Confissão e a Eucaristia. A Eucaristia é, sem dúvida, o maior dos cuidados de Cristo. No Santíssimo Sacramento, Jesus se entrega todos os dias nos altares de nossas Igrejas. Se despoja, tomando a aparência de pão para nos tocar, moldar o nosso coração para que possamos ser mais parecidos com Ele, para que a nossa fome e sede de amor sejam saciadas (Jo 6, 35). Cristo vencerá em cada pessoa humana conforme a abertura de cada coração, no desejo reto de agradá-Lo.

--A cada experiência onde o amor de Deus nos toca, cresce a nossa amizade com Ele. Consequentemente, a necessidade de estar em contato com Cristo também aumenta. A isso a Igreja denomina oração: elevamos nossa alma para entregar a Jesus as nossas preocupações, medos, agradecimentos e pedidos de perdão (CIC, 2559). Dessa forma, fazemos com que Jesus participe de todo o nosso dia e esteja presente em todas as ações de nosso cotidiano, sendo a inspiração para um trabalho bem feito, a motivação para aceitar as humilhações e encarar as cruzes, nos tornando participantes do plano de Salvação, corredentores com Cristo. Certamente àquele que se decidir por Cristo virão muitas contrariedades e perseguições, mas não se há de temer. É como diz São Paulo:

“Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força”. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte" ----(2Cor 12, 9-10).

--Nossa Senhora, que acompanhou Jesus durante Sua Paixão e morte na Cruz, é o auxílio, o exemplo para todo cristão. Ela dispensará a cada um a graça necessária para correspondermos ao amor de Deus. Unidos a ela poderemos “cantar ao Senhor, que fez brilhar a sua glória” (Ex 15, 1), ainda que seja um cântico silencioso, como aquele que sai do coração após a recepção da sagrada comunhão eucarística. Confiemos nela e supliquemos a graça da santidade, ou seja, de amar a Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, como ela o fez em sua vida. Peçamos também a intercessão dos Santos, principalmente daqueles que viveram em solo brasileiro, como São José de Anchieta, Santa Dulce dos Pobres e São Mateus Moreira. Esse último, após uma violenta perseguição no Rio Grande do Norte, teve o coração arrancado de seu peito por perseguidores. Em seu último suspiro, sob o impulso da fé e do amor ao Senhor Jesus, exclamou: “Viva o Santíssimo Sacramento”. Que a vida de cada um de nós possa ser um culto perene a Jesus, o Santíssimo Sacramento do Altar, Nosso Senhor e Salvador.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. SALES, São Francisco. Filoteia ou introdução à vida devota. p. 56-57. 18. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.

  2. O bacon nosso de cada dia - católicos e veganismo. Disponível em: < https://ocatequista.com.br/atitude-catolica/item/18114-o-bacon-nosso-de-cada-dia-catolicos-e-veganismo. Último acesso em 16 abr. 2020 >.

  3. ESCRIVÁ, São Josemaría. Caminho. p. 63. 9. ed. São Paulo: Quadrante, 1999.

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