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Afetividade e Sexualidade

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Bianca de Camargo Guimarães

Luiz Henrique Silva de Assis

Campinas

2020

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--“Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem-aventurada. Eis porque, desde sempre em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e amá-lo com todas as suas forças.” (Catecismo da Igreja Católica - CIC 1)

--A vocação primordial do homem é sua união com Deus, já que fomos feitos para participar da sua glória na vida eterna. Ao contrário do que se costuma pensar, a vocação como estado de vida (matrimônio, sacerdócio, celibato e vida religiosa) não é um fim em si mesmo, sendo ela na verdade um meio para alcançar o bem supremo, que é o próprio Deus. Portanto, é essencial compreender que não nascemos para ser esposos(as), sacerdotes ou religiosos(as), de forma que, se tivermos os estados de vida como fins, nos frustraremos ao encontrarmos as dificuldades que surgem naturalmente em cada um. Pelo contrário, sendo Deus o nosso sustento e fim último, perceberemos que todas as situações nos aproximam Dele, e que a própria vocação se torna meio de contínua santificação e união com Jesus.

--Para compreender melhor o valor da sexualidade humana é necessário reconhecer qual é o plano original de Deus para o homem e a mulher. Em seu desígnio perfeito de amor, fez-nos Sua imagem e semelhança, e isso implica em assemelharmo-nos também a Ele em santidade. Podemos contemplar isso nas catequeses de São João Paulo II que deram origem à Teologia do Corpo [1]. Nelas, o então papa lembra-nos a dignidade do corpo e da alma do ser humano e deixa evidente como deveria ser a relação entre homem, mulher e Deus.

--Antes do pecado original, homem e mulher viviam na nudez originária, pois não era necessário o uso de vestes para cobrir seus corpos, já que ao contemplar a nudez um do outro, sendo eles criados à imagem e semelhança de Deus, contemplavam o próprio Deus em sua criação. Após o pecado original, Adão e Eva sofrem as consequências da desordem e da desobediência: seus corpos já não remetem seu coração a Deus; de ícone, a nudez se torna objeto de idolatria, e então passa a ser necessário vestir-se, já que os seus corpos deixaram de ser meios de glorificação a Deus e tornaram-se agora objeto de desejo para satisfação própria.

--Por isso decorre do pecado original uma consequente objetificação do corpo, tanto do homem como da mulher. Em nossos tempos, influenciados por um mundo supersexualizado, a pornografia, masturbação e o sexo fora do matrimônio fazem com que os relacionamentos muitas vezes se resumam ao prazer sexual, sem a finalidade da união e procriação sonhada por Deus no matrimônio. A pornografia faz do ato sexual e da imagem dos corpos nus um produto a ser consumido, e após a realização desse prazer, descartável. Isso faz com que seu usuário reproduza este ciclo de interação em suas relações.

--A masturbação, segundo o CIC (2352), “é um ato gravemente desordenado”, pois não cumpre com as duas finalidades do ato sexual: união dos esposos e procriação humana. Além de ser um ato visivelmente egoísta, traz sequelas semelhantes ao vício de um usuário de drogas, tornando qualquer situação de sua vida um motivo para praticar o ato, justificando assim ser necessária a prática da masturbação como recompensa para momentos alegres, alívio para situações de estresse e compensação com o prazer em momentos de infelicidade.

--A consequência do hábito da pornografia e da masturbação na sexualidade e afetividade humana não possui limites, podendo-se compreender melhor comparando-o ao pecado da gula, onde o prazer oferecido pelo alimento supera as necessidades do organismo, e gera uma busca desequilibrada pela satisfação, trazendo doenças graves como efeito e podendo levar à morte. Sendo assim, também no prazer sexual os resultados são infinitos, como: fornicação, adultério, pedofilia, zoofilia, necrofilia etc. Todas essas ações fogem do plano de Deus para a sexualidade humana e ferem a dignidade do corpo, templo do Espirito Santo.

--Em um mundo supersexualizado, o sexo muitas vezes torna-se como uma doença, mas Deus, em seu perfeito plano de amor, nos dá o remédio: a castidade, pois

--Nela possuímos uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda suas paixões e obtém a paz, ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz.” (CIC, 2339)

--Todo batizado é chamado à castidade, porém homem e mulher trilham caminhos e desafios diferentes rumo à conquista dessa virtude. Essas diferenças ficam evidentes ao contemplarmos o primeiro encontro entre os dois: “Ossos dos meus ossos, carne da minha carne” (Gn 2, 23), disse Adão ao admirar a beleza de sua companheira. Já o coração de Eva se alegra quando é elogiada por seu companheiro. Nesse cenário de Gênesis observa-se como homem e mulher relacionam-se, um pelo visual e o outro pelo emocional. Assim também na desordem do pecado a atração visual tida pelo homem implica em fazer do corpo feminino um objeto de idolatria, enquanto a mulher sente-se tocada pelo apelo afetivo, submetendo-se à exposição de si e de seu corpo em troca da gratificação emocional.

--“A mulheres devem ser atraentes pela sua santidade, não pelos seus vestidos exagerados ou indecorosos, nem pelas suas joias. Afinal de contas, não há nada mais atraente que a santidade. ” [2]

--O modelo de mulher oferecido pelo mundo geralmente a retrata de maneira vulgar, onde ela precisa seduzir o homem utilizando-se de roupas e comportamentos que atrairão atenção imediata. Porém, a necessidade verdadeira do coração da mulher está em sentir-se amada e não apenas desejada, já que a exposição de si a torna um produto, e a consequência é que um relacionamento construído apenas pelo desejo do corpo já tem prazo de validade.

--No plano de Deus homem e mulher comprometem-se por toda a vida na decisão de amar-se. Nos votos matrimonias, a união é selada pela promessa de cuidados com o outro em todas as circunstâncias. Portanto, o tempo não destruirá esse relacionamento, pois “o amor humano não tolera a ’experiência’. Ele exige doação total e definitiva das pessoas entre si. ” (CIC, 2391)

--Diferente do que se pode pensar, a dignidade da mulher vai além da beleza de seu corpo, ou de suas roupas, já que quando se oculta o exterior revela-se o interior. Uma pessoa pode sentir-se atraída pela beleza de um corpo, mas verdadeiramente só pode decidir-se por amar o que está dentro dele: virtudes, caráter e sua história de vida.

--Quando uma mulher não reconhece a grandeza de sua dignidade, expondo-se como um produto em uma vitrine, reforça no homem uma tendência que vem do pecado original, de tratá-la como objeto, esvaziando nele a capacidade de amar, o que aciona de imediato seus instintos mais primitivos.

--O homem inclinado ao vício tende a tratar a mulher de maneira inferior, não enxergando mais sua igual dignidade, sendo o machismo uma das formas destrutivas para esse relacionamento, que pode se entender como toda ação e comportamento do homem que nega a igualdade e a complementaridade criada por Deus. “O homem, quando livre, é capaz de dar uma resposta adequada a qualquer situação; ele é igualmente livre para dar uma resposta errada. Uma vez que a natureza humana foi ferida pelo pecado original, os homens estão mais propensos a dar respostas erradas do que certas. E, embora possamos pecar sem a ajuda de ninguém, não somos capazes de fazer o bem sem a graça de Deus, motivo pelo qual devemos rezar humildemente. E isso é algo que muitos deixam de fazer. ” [3]

--A mulher fora da graça de Deus por diversos comportamentos degradantes nega também a mesma complementaridade sonhada no plano original. Passa a querer ser um ser dominante, usando-se da sua sensualidade ou por esvaziar sua feminilidade tornando-se uma caricatura deformada do homem.

--“Mas será que a resposta feminista a essas desigualdades e injustiças é uma solução que beneficiará a Igreja, a sociedade como um todo, o casamento, a família, ou mesmo as próprias mulheres? Ora, ao desejarem se tornar como os homens, as feministas inconscientemente admitem a superioridade do sexo masculino. Elas insensatamente preferem alterar a desigualdade a buscar a verdade ou a justiça. A feminilidade é um pivô da vida humana: Uma vez arrancado, as consequências são desastrosas. Na verdade, a experiência nos mostra que o feminismo acaba por beneficiar os homens e prejudicar as mulheres. ” [3]

--Compreende-se que o pilar de uma sociedade é a família, chamada também de igreja doméstica, onde nós aprendemos a amar, respeitar, perdoar, acolher e discernir o bom do ruim. É também lugar de construção do caráter e das virtudes. Na família, Deus faz homem e mulher participantes da criação de uma nova vida, e possuem assim a responsabilidade e o dever de conduzir os filhos de forma que passem a desejar a vida eterna. “Ao criar o homem e a mulher, Deus instruiu a família humana e dotou-a de sua constituição fundamental. Seus membros são pessoas iguais em dignidade. Para o bem comum dos seus membros e da sociedade, a família implica uma diversidade de responsabilidades, de direitos e de deveres ”. (CIC, 2203)

--O amor conjugal deve respeitar a finalidade para qual foi criado, estando aberto a receber as vidas que o Senhor lhe conceder. Por isso a Igreja condena práticas como o aborto e os métodos contraceptivos, que além de ser prejudiciais à saúde do casal não cumprem também com a finalidade de entrega total de si, negando o sentido do amor matrimonial.

--Quando o ser humano, em seu livre arbítrio, escolhe viver sem Deus, esquece-se também de sua essência e os desígnios que Deus dispõe para sua real felicidade.

--Dentre tantas formas de não ser feliz em sua sexualidade está a não aceitação de si e a pratica da homossexualidade, já que nenhuma delas cumpre plenamente o plano desejado por Deus na criação daquele indivíduo. O catecismo nos orienta que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados, sendo assim contrários à lei natural, fechados à procriação e à verdadeira união e entrega destinada à sexualidade humana.

--Porém, há de se fazer uma correta distinção entre a prática e a tendência homossexual, já que não existem estudos científicos que expliquem a origem da atração por uma pessoa do mesmo sexo. Uma diretiva da Igreja sobre o tema é que: “Essa inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Essas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida, e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor...” (CIC, 2359)

--Cristo deu-nos a redenção por Sua morte e ressureição, em Seu perfeito sacrifício livrou-nos de todos os males. Com Sua vida nos testemunhou a forma de como devemos viver e ser felizes. Sua mensagem é de esperança e de vida nova. “Eis que eu faço novas todas as coisas. ” (Ap 21,5).

--No ápice da sua entrega na cruz, deu-nos sua Santíssima mãe como auxilio e proteção nas dificuldades que encontraremos em nossas vidas.

--A Virgem Maria e seu filho Jesus são os modelos perfeitos de como vivenciar o pleno domínio da afetividade e sexualidade humana, e encontra-se na família de Nazaré um espelho ideal de como devem ser construídos nossos lares.

--Deus, que nunca desiste de nós, nos deu e ainda dá meios perfeitos para nos unirmos a Ele aqui na vida terrena para assim um dia chegarmos à união perfeita com Ele na eternidade. Pois o nosso coração estará sempre inquieto enquanto não corresponder a esse chamado: “Eis porque, desde de sempre em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e amá-lo com todas as suas forças. ” (CIC 1)


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. JOÃO PAULO II, Papa (Karol Józef Wojtyla). Teologia do Corpo: O amor humano no plano divino. 1ª Edição: Ecclesiae, 2014.

  2. MORROW, Thomas G. Namoro Cristão em um mundo supersexualizado. 2ª Edição: Quadrante, 2011 (Coleção Vértice; 72)

  3. HILDEBRAND, Alice von. O privilégio de ser mulher. 1ª Edição: Ecclesiae, 2014.

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