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As Indulgências e como adquiri-las

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Gleicy Dornelas e Tomás Giacopini

Campinas

2020

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--Para entendermos melhor o que são indulgências, é preciso antes refletirmos sobre uma outra realidade, a da nossa morte. Quando morrermos, nosso corpo se separará de nossa alma. Nossa realidade material morrerá e permanecerá nossa realidade espiritual. E esta, de certa forma, se cristalizará na forma em que se encontrou nesta vida. Melhor explicando: nos encontraremos diante do Criador, do Deus de toda beleza. Veremos como tudo nesta vida é um reflexo Dele, como a beleza de todas as coisas do universo são um reflexo Dele, e como tudo isso é ínfimo ainda, diante desse Deus. E não somente a beleza deste mundo, mas também a bondade e a verdade contida nos seres vivos e inanimados.

--E esta será a hora da verdade. Se morrermos em pecado grave, portanto fora da graça, é porque rompemos nossa amizade com esse Deus, impedimos que habitasse em nossa alma. Terá sido primeiramente um movimento livre de nossa parte. E então, ao nos depararmos com Ele, o rejeitaremos também, pois já o rejeitamos nesta vida. E este será o inferno. Não haverá bondade, nem verdade, nem beleza para se apreciar. Apenas o vazio e a dor de O ter rejeitado. E esta dor será eterna.

--Se amarmos este Deus de todo o coração nesta vida, nos unindo perfeitamente a Ele pela oração, mortificação e prática das virtudes, quando nos encontrarmos diante Dele estaremos prontos para viver eternamente com Ele, em Sua alegria, contemplando-o face a face. E este será o Céu.

--Mas, se vivermos essa amizade nesta vida de forma imperfeita, quando morrermos nossa alma se separará do corpo e verá as realidades espirituais perfeitas. Vendo essas realidades, irá diretamente à presença de Deus, pois se sentirá extremamente atraída por Ele. E, diante de Sua presença, verá tudo claramente, de tal forma que se verá imperfeita e incapaz se unir a Ele em definitivo.

--Talvez tenha alguns pecados veniais dos quais não se arrependeu, além de, com certeza, não ter reparado todos os pecados cometidos em vida. Todo pecado tem um duplo efeito: reforça os vícios em nossa alma e causa, em algum grau, um prejuízo ao próximo. Se morrermos nesta vida tendo nos confessado dos nossos pecados e, além disso, repararmos nossos vícios e o prejuízo ao próximo com obras, orações e penitências, estaremos prontos para se unirmos perfeitamente a Deus. Além disso, reparamos as ofensas também quando aceitamos os sofrimentos que a vida nos envia, sejam eles grandes ou pequenos, pois vêm, em última instância, de Deus. Se não repararmos o bastante, iremos para o Purgatório. Não é que Deus condena a alma a este lugar. Esta realidade não é um castigo, mas sim um ato da misericórdia divina. A alma quererá ir para o Purgatório, e desejará com tal força que é como se “jogasse” a si mesma neste lugar para se purificar. Como será plenamente feliz, tendo entre si e seu Amado uma mancha ou um mal que a impede de se unir perfeitamente a Ele?

--E é a partir desta realidade que nascem as indulgências.

--Logo após a passagem de Cristo pela terra, nas primeiras comunidades cristãs católicas, o método utilizado para administrar o sacramento da penitência/confissão era diferente do que estamos acostumados atualmente. Naquele tempo, o fiel procurava o sacerdote ou o bispo, confessava seus pecados, cumpria a penitência, que poderia levar dias, meses ou até anos, e somente após o cumprimento dessa penitência é que recebia a absolvição de seus pecados e era readmitida à comunhão com a Igreja. [1]

--Sabemos que Jesus morreu na cruz para remir os nossos pecados, mas ainda assim continuamos a pecar, continuamos a ter uma inclinação para o mal. Por isso, devemos buscar sempre fazer um bom exame de consciência, uma boa confissão e cumprir as penitências que nos são impostas. Vale lembrar que as penitências não são para pagar pelos pecados cometidos, mas sim para resolver os problemas oriundos desses pecados. [1]

--Nos primeiros séculos depois de Cristo, eram intensas as perseguições aos cristãos e havia grande número de mártires. Muitos cristãos eram capturados por soldados, a pedido do governo, e ficavam presos aguardando o dia da própria execução. Surgiu nesta época, por parte dos penitentes, o hábito de recorrer à intercessão dessas pessoas. Os presos então escreviam cartas (chamadas “cartas de paz”) ao bispo, pedindo a substituição da penitência do pecador por sua pena. Com este documento entregue ao bispo, o penitente era absolvido da pesada penitência pública que o confessor lhe impusera e também da dívida (pena temporal) para com Deus. Assim, transferia-se para o pecador arrependido o valor satisfatório dos sofrimentos do mártir. [1]

--Foi a partir dessa realidade que surgiram as indulgências. E isto é possível graças ao Corpo Místico de Cristo, como está escrito em 1 Coríntios 12:

“Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. [...] Ora, vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua parte.” (1 Cor 12, 12;27)

--O Catecismo da Igreja Católica ainda nos diz:

--A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do sacramento da Penitência.
--O QUE É A INDULGÊNCIA?
--A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições, pela acção da Igreja, a qual, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos. A indulgência é parcial ou plenária, consoante liberta parcialmente ou na totalidade da pena temporal devida ao pecado. O fiel pode lucrar para si mesmo as indulgências [...], ou aplicá-las aos defuntos” (CIC 1471)

--Para entender as indulgências, é necessário crer que somos um só corpo em Cristo Jesus, crer na comunhão dos santos e lembrar sempre que o bem que fazemos afeta positivamente as outras pessoas. [2; 3]

--De acordo com o Catecismo, podemos obter a indulgência de Deus da seguinte forma:

--A indulgência obtém-se mediante a Igreja que, em virtude do poder de ligar e desligar que lhe foi concedido por Jesus Cristo, intervém a favor dum cristão e lhe abre o tesouro dos méritos de Cristo e dos santos, para obter do Pai das misericórdias o perdão das penas temporais devidas pelos seus pecados. É assim que a Igreja não quer somente vir em ajuda deste cristão, mas também incitá-lo a obras de piedade, penitência e caridade» (88). (CIC 1478)
--Uma vez que os fiéis defuntos, em vias de purificação, também são membros da mesma comunhão dos santos, nós podemos ajudá-los, entre outros modos, obtendo para eles indulgências, de modo que sejam libertos das penas temporais devidas pelos seus pecados. (CIC 1479)

--Assim, a indulgência é uma forma de a Igreja distribuir o ”tesouro dos méritos de Cristo e dos santos”, mediante a comunhão dos Santos, pelo Paráclito que nos une, para os irmãos que, ainda sob o influxo do pecado, lutam para continuar firmes no caminho do Senhor e purificá-los de suas culpas.

--Já que as indulgências são tão importantes, como obtê-las? Há diversas obras que podemos realizar que são indulgenciadas pela Santa Igreja. Encontram-se melhoras descritas no Manual das Indulgências [4].

--Note que existem dois tipos de indulgências: as parciais e as plenárias. A indulgência é parcial ou plenária, conforme libera parcial ou totalmente da pena devida pelos pecados. [5]

--Quando se trata de uma indulgência plenária, há algumas regras para seguirmos, além de cumprir a obra indulgenciada: nos confessarmos, comungarmos e rezarmos pelo Papa. Os dois últimos devem ser realizados, no máximo, no espaço de uma semana da confissão. Ou seja, uma semana antes (caso estejamos em estado de Graça) ou uma semana depois. É importante também, para que a indulgência plenária seja válida, uma contrição perfeita pelos pecados, ou seja, uma dor sincera por todos os pecados cometidos e o desejo de não mais fazê-lo. Caso não estejamos sinceramente arrependidos, a indulgência plenária se tornará parcial. [5]

--É interessante lembrar que a indulgência somente pode ser aplicada à própria pessoa que a ganha. Ela não pode ser oferecida por outra pessoa que esteja viva. Mas podemos oferecer, sim, pelas que morreram e que se encontram no Purgatório. A Igreja, inclusive, estimula os fiéis a fazerem isso, pois as almas do Purgatório já saíram do tempo de provação, que é esta vida, e nada mais podem fazer por si. É, portanto, uma obra de caridade oferecermos indulgências por elas pois, como afirma Santo Tomás: “a mais leve das penas do Purgatório supera todos os sofrimentos desta vida, sejam eles quais forem.”

--Isso nos faz voltar a uma questão inicialmente levantada em nosso artigo: para irmos direto para o Céu, devemos estar perfeitamente unidos a Deus já nesta vida. E isso é possível mediante as boas obras, orações e penitências e aceitando os sofrimentos que Deus nos envia. Talvez estejamos buscando os três primeiros, mas será que estamos sabendo aceitar e oferecer os sofrimentos enviados por Deus? --Ou, quando o sofrimento bate a nossa porta, o repelimos?

--Tenhamos a coragem de aceitá-los e buscar constantemente as indulgências, pois um dia este mundo passará e ficará somente o que é eterno.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Padre Paulo Ricardo. Indulgências (A Resposta Católica, 34). 2011. (14m38s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JVsCraBwQDk&t=617s. Acesso em: fev. 2020.

  2. Dom Henrique Soares da Costa. Explicação da Doutrina das Indulgências – Dom Henrique Soares da Costa. 2015. (15m06s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DjBJirN4beM. Acesso em: mar. 2020.

  3. Editora Cleofas. Como surgiram as indulgências. Disponível em: https://cleofas.com.br/como-surgiram-as-indulgencias/. Acesso em: mar. 2020.

  4. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Manual das Indulgências – normas e concessões. Disponível em: https://www.presbiteros.org.br/storage/2011/12/Manual-de-Indulg%C3%AAncias.pdf. Acesso em: mai. 2020.

  5. Papa Paulo VI. Constituição Apostólica Indulgentiarium Doctrina. Disponível em: http://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-vi_apc_01011967_indulgentiarum-doctrina.html. Acesso em: mai. 2020.

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