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Comunidade

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Renan Ribeiro da Silva

Fernanda Zanata Silva

Campinas - SP, 2020


Todo ser humano carrega em si a necessidade de estar em comunhão com alguém, de dividir seus sonhos, partilhar suas experiências e suas conquistas. Estar em comunhão é dividir momentos, sentimentos, aptidões, buscar os mesmos princípios, é estar em unidade.

De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC 1878), existe certa semelhança entre a unidade das pessoas divinas e a fraternidade que os homens devem estabelecer entre si, na Verdade e no Amor. Embora a necessidade humana seja fundamental, o convívio com o outro não é de fato simples. Hábitos, idéias, defeitos, temperamentos, são algumas de muitas coisas das quais precisamos aprender a conviver e modificar, por isso Deus nos chama a viver em comunidade, seja servindo numa paróquia, em missão de evangelização, em uma comunidade de vida ou até mesmo em nossas famílias.

As primeiras comunidades foram formadas pela vinda do Espírito Santo, sendo caracterizadas pelos Sacramentos. O batismo era a partir da imposição das mãos dos Apóstolos e isto infundia nas pessoas o Espírito Santo, fonte da unidade, unindo numa só fé as pessoas de regiões diversas [1]. As práticas da vida cristã fazem despertar a esperança, tendo como fundamento o que era anunciado, a Ressureição de Jesus Cristo e todo o caminho que Ele percorreu. Utilizando-se do Senhor como exemplo, o discípulo autêntico, Santo Agostinho, através da oração, meditação da palavra e caridade, fundou uma das primeiras comunidades [2].

Desde a concepção, todos são chamados a viver em comunidade, por isso a família é o lugar onde pertencemos, temos nossa identidade, a “nossa terra natal”. Quanto melhor o convívio, o afeto, o amor, a doação, melhor será a busca por pessoas que contemplam os mesmos princípios. Nossa família é, de fato, nossa primeira comunidade. Ora, se uma criança é amada e vista como algo precioso, ouvida e tocada com respeito, ela vive em paz, pois pertence a alguém, sente-se acompanhada, protegida, cuidada e consegue abrir-se ao novo sem medo e receios. Realiza-se profundamente quando está em comunhão com seu pai e sua mãe e isso é fundamental para o ser humano. Essa criança, quando adulta, buscará lugares que demonstram o mesmo afeto que recebeu de seus pais. Da mesma forma, se a criança não se sentir amada ou parte da família, ela terá uma experiência de comunidade ruim e viverá um sofrimento terrível que se manifestará pela angústia e através de sua fisiologia humana, como: alterações das funções digestivas e no sono, fazendo com que perca a maneira de como agir, tornando-se retraída com imenso sentimento de inutilidade, morte, fúria e ódio. Para essa criança, a vida adulta será uma insessante busca de encontrar formas de se sentir querida e amada [3].

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, (CIC 2179 e 2226): a paróquia é uma determinada comunidade de fiéis constituída de maneira estável na Igreja particular, e seu cuidado é confiado ao pároco, como a seu pastor próprio, sob a autoridade do bispo diocesano. É o local onde todos os fiéis podem ser congregados pela Celebração dominical da Eucaristia, na qual é o centro da vida liturgica das famílias cristãs; é lugar privilegiado da catequese dos pais e dos filhos. A palavra de Deus realça e confirma o que está acima:


“Pois, como em um só corpo temos muitos membros e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo e Cristo, e cada um de nós é membro um do outro. ” - (Rm 12, 4-5)

E surgindo como um apelo às necessidades do tempo e maneiras como as pessoas vivem, sendo iluminado pelo Espírito Santo, surgem as novas comunidades nas quais as pessoas são chamadas a viver um carisma ou um chamado específico para evangelização. São homens e mulheres nos mais diversos estados de vida: solteiro, casado e celibatários, que vivem em comunhão fraterna, sob orientação de um fundador, com suas atividades de evangelização. Alguns dedicados à vida e ao cotidiano da comunidade e há também aqueles que conciliam suas vidas em família e doam-se a comunidade de maneira que os dons e testemunhos completam-se e surgem como luz em meio às trevas que nos circundam nestes tempos [2].

Portanto, é necessário sempre estar com o coração aberto, estar a serviço e entender que todos têm lugar e que cada membro é importante, independentemente da função exercida. A respeito disso, a própria Palavra de Deus nos exorta:

“O olho não pode dizer à mão: “Eu não preciso de ti”; nem a cabeça aos pés: “não necessito de vós”. Antes, pelo contrário, os membros do corpo que parecem os mais fracos são os mais necessários. E os membros do corpo que temos por menos honrosos, a esses cobrimos com mais decoro. Os que em nós são menos decentes, recatamo-los com maior empenho, ao passo que os membros decentes não reclamam tal cuidado. Deus dispôs o corpo de tal modo que deu maior honra aos membros que não a têm, para que não haja dissensões no corpo e que os membros tenham o mesmo cuidado uns para com os outros. ” - (1 Cor 12, 21-25)

Mesmo com todas as dificuldades, com o tempo aprendemos que viver em comunidade é abrir mão do egoísmo, é aperfeiçoar os dons, é fazer o outro crescer sem inveja, sem rancor; é enxergar e contemplar no outro a face de Deus [2].

“O amor a Deus e o amor aos outros têm a mesma origem e a mesma finalidade. ” (São João da Cruz)

Fazer parte de uma comunidade é abandonar-se nos braços de Deus, é ver seus próprios defeitos e os dos outros sendo transformados, é deixar-se guiar pela oração, pela fé e pelo amor. É colocar Deus acima de tudo e tudo fazer por amor, por Ele perdoando e crescendo na caridade. A comunidade é feita da delicadeza entre as pessoas, de pequenos gestos, atenção e sacrifícios. Mesmo com todas as dificuldades, viver em comunidade é aprofundar-se mais nas coisas do alto, é viver pelos outros a permanecerem na fé. Por isso, viver em comunidade é deixar-se experimentar pela graça de Deus [1].


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. FLORES, José H. Prado. Como evangelizar os batizados?. 13. ed. São Paulo: Loyola, 1997.

  2. Comunidade Católica Pantokrator. Formas de Viver a Vocação El Shaddai Pantokrator. Disponível em: <https://pantokrator.org.br/po/geral/formas-viver-vocacao/>. Acesso em: 28 jan. 2020.

  3. VANIER, Jean. Comunidade, lugar do perdão e da festa. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 2006.

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