Juliana Rocha Mendes Pedreira
Larissa Mariana Oliveira Santos
Campinas - SP, 2019
“A mulher salvar-se-á pela maternidade, se perseverar com modéstia na fé, na caridade e na tarefa da santificação. ” - (1Tim 2,15)
O sacramento do matrimônio, ao qual muitas de nós, mulheres, somos vocacionadas é abordado pela Carta Encíclica Humanae Vitae [1], que esclarece que todo ato conjugal praticado pelo casal de esposos deve ter finalidade unitiva e procriativa, sendo tais aspectos inseparáveis. Ou seja, Deus criou o ato conjugal para que, por ele, houvesse total entrega entre os esposos, sendo que esta entrega passa pela abertura à vida.
Muitas de nós nos aproximamos/aproximaremos do altar no dia de nossos casamentos sem compreendermos verdadeiramente essa importante promessa que ali se faz: a promessa solene de abertura para a vida. São João Paulo II já dizia em sua Carta Apostólica Mulieris Dignitatem [2]que de todos os atributos que a Santíssima Virgem recebeu o mais sublime é o de “Mãe”, já que “servir significa reinar”. Pensando sobre a incompreensão acerca do serviço citado é que iniciamos a escrita deste texto.
Na Parábola do Semeador (Mt 13,1-9), além de uma explicação sobre as diferentes formas que podemos reagir à mensagem do Evangelho, podemos encontrar uma explicação acerca dos tipos de mãe que podemos ser: aquela que nem existiu, não permitindo que seus filhos nascessem, fazendo um paralelo às sementes que caem no caminho e os pássaros as comem; aquela que dá a luz, mas não se dedica ao cuidado corporal e espiritual de seus filhos, fazendo um paralelo às sementes que caem em solo pedregoso, mas que por falta de terra não criam raízes fortes e morrem; aquela que dá a luz, cuida demasiadamente e sobrecarrega a família, sufocando-a com milhares de regras e murmurações, fazendo um paralelo às sementes que caíram entre os espinhos que cresceram e as sufocaram. Ainda, há um quarto tipo de mãe que podemos encontrar na Parábola, aquela que acolhe a vida e se doa a ela: a terra boa que possibilita que a semente se desenvolva e produza frutos.
Como sabemos, nós mulheres somos chamadas à submissão (Efésios 5, 22). Porém, não se trata de uma submissão passiva como a da terra que após a escavação acolhe a semente. Somos chamadas à submissão sacrifical! Desde muito jovem a menina vai aprendendo a viver o sacrifício, como por exemplo, através das cólicas menstruais. O homem tem maior aptidão a ser o herói em momentos que exigem explosão de coragem. Já a mulher realiza os seus atos heroicos através dos anos educando os filhos, meses de gestação e até mesmo nos intensos segundos da vida cotidiana, fazendo com que o sacrifício ganhe uma aparência de trivialidade.
Desta forma, o ser mulher tem maior facilidade para compreender a redenção, pois chegamos mais perto da morte ao trazermos a vida ao mundo. Vida essa que também é trazida através da vocação de ser mãe espiritual. A Santíssima Virgem teve depositado em si as duas formas de maternidade, a maternidade vivida na carne: Ela é a Mãe do Salvador; e a maternidade vivida pelo espírito: foi entregue como Mãe aos sacerdotes e a nós (representados por São João, aos pés da Cruz). Assim como foi pela graça de Deus que Ela pôde dar à luz ao Cristo e pode dar um amor especial aos filhos espirituais, nós também podemos, pela mesma graça, sermos fiéis à chamada que o Criador nos faz para termos e educarmos uma descendência divina.
Portanto, para que uma nova pessoa passe a existir, não basta que homem e mulher simplesmente se unam no ato conjugal, é necessário mais que isso, é essencial a graça, o toque divino! Segundo Fulton Sheen, no livro Três para Casar [3], a maternidade possui uma essência dupla: 1) a da procriação da vida, que se resume no processo biológico que outros seres também realizam; 2) a da infusão da alma, que ocorre por ação direta de Deus. Assim como o sacerdote prepara o pão para o sacrifício, a mãe prepara o bebê para o nascimento. Mas como é o Poder de Deus que muda o pão no corpo de Cristo, assim o Poder de Deus infunde a vida e a alma no corpo e o torna uma pessoa humana.
Apesar de toda a beleza exposta acerca da maternidade, um dos maiores problemas envolvidos na realidade familiar atual se trata da rejeição à esse serviço por nossa parte enquanto mulheres [5]. Tal rejeição é frequentemente justificada por nossa busca de prestígio social e carreiras bem-sucedidas, que requerem a dedicação de vários anos de trabalho incessante. Dessa forma, adiamos a responsabilidade da maternidade e educação dos filhos, enxergando-as como fardos e símbolos de subversão do sexo feminino.
Além da pressão social, usamos de outras inúmeras justificativas para recusar a maternidade, como, por exemplo, a imaturidade de recém-casados. Acerca disso, devemos deixar claro que a maturidade esperada para se casar deve ser a mesma esperada para ser pai ou mãe. Isto é, se o casal é imaturo para ter filhos, é imaturo para se casar também, uma vez que a abertura à vida está inclusa nas promessas matrimoniais [4]. Por isso, não é lícito que evitemos os filhos durante os primeiros anos de casados com a justificativa de “nos conhecermos melhor” ou “curtir a companhia um do outro”. Lembremo-nos que a fase de conhecimento mútuo deve ser vivida no namoro e que os filhos foram uma promessa que fizemos a Deus [4].
Outras justificativas muito recorrentes também na recusa à maternidade são: as dificuldades financeiras e o medo do parto [4]. Devemos entender que a maior riqueza possível de adquirirmos na terra são os filhos criados e bem-educados no amor a Deus. Para que isso aconteça não é necessário o excesso de bens e riquezas materiais, devemos tomar cuidado para não deixar que a ambição pelas riquezas da terra nos impeça de entregar um tesouro para Deus no céu. Que ingratas seríamos se recusássemos almas a Deus por caprichos materiais.
As dores do parto, por sua vez, permitem que nos configuremos à cruz de Cristo. Kimberly Hahn [4], em um dos seus testemunhos, disse que se lembrava de Nosso Senhor na cruz enquanto estava prestes a dar à luz a seu filho, esticada, nua e cheia de dores em meio a várias pessoas, assim como Cristo crucificado. Para nos dar a vida, Jesus passou pelo calvário e pela cruz. Nós também somos chamadas a viver nossa cruz para trazer uma nova vida ao mundo e mais do que isso, mais uma alma para o céu.
Não poderíamos deixar de pontuar que os filhos são um grande tesouro, mesmo que fisicamente contrariem um pedido frequente dos pais durante sua gestação: “o importante é vir com saúde”. Deus sabe de todas as coisas e se você, querida leitora, engravidar de um filho com alguma doença ou anomalia, saiba que ele tem o mesmo valor que todas as pessoas para Deus e deve ser acolhido com o mesmo amor e carinho [4].
De fato, dificilmente nos sentiremos prontas para a grande missão materna, mas é vontade de Nosso Senhor que vivamos essa realidade. Ele quer viver esse sonho conosco e quer nos capacitar para esse desafio, pois sabe que nos santificamos a cada fralda trocada e a cada renúncia realizada. Não deixemo-nos vencer pelo medo, tenhamos coragem para povoar o céu de santos!
“O Céu aguarda os Santos, Santos que amaram, Santos se faz de amor” (Juninho Cassimiro)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PAULO VI. Carta Encíclica Humanae Vitae. 9. ed. São Paulo: Paulinas, 2001.
JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Mulieris dignitatem. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1988/documents/hf_jp-ii_apl_19880815_mulieris-dignitatem.html>. Acesso em 02 dez. 2019.
SHEEN, Fulton J. Três para casar. São Paulo: Molokai, 2017.
HAHN, Kimberly. O Amor que dá Vida. 1. ed. São Paulo: Quadrante, 2012.
JUNIOR, Padre Paulo Ricardo de Azevedo. Maternidade. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/episodios/maternidade>. Acesso em: 02 dez. 2019.
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