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O chamado à maternidade

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Juliana Rocha Mendes Pedreira

Larissa Mariana Oliveira Santos

Campinas - SP, 2019


“A mulher salvar-se-á pela maternidade, se perseverar com modéstia na fé, na caridade e na tarefa da santificação. ” - (1Tim 2,15)

O sacramento do matrimônio, ao qual muitas de nós, mulheres, somos vocacionadas é abordado pela Carta Encíclica Humanae Vitae [1], que esclarece que todo ato conjugal praticado pelo casal de esposos deve ter finalidade unitiva e procriativa, sendo tais aspectos inseparáveis. Ou seja, Deus criou o ato conjugal para que, por ele, houvesse total entrega entre os esposos, sendo que esta entrega passa pela abertura à vida.

Muitas de nós nos aproximamos/aproximaremos do altar no dia de nossos casamentos sem compreendermos verdadeiramente essa importante promessa que ali se faz: a promessa solene de abertura para a vida. São João Paulo II já dizia em sua Carta Apostólica Mulieris Dignitatem [2]que de todos os atributos que a Santíssima Virgem recebeu o mais sublime é o de “Mãe”, já que “servir significa reinar”. Pensando sobre a incompreensão acerca do serviço citado é que iniciamos a escrita deste texto.

Na Parábola do Semeador (Mt 13,1-9), além de uma explicação sobre as diferentes formas que podemos reagir à mensagem do Evangelho, podemos encontrar uma explicação acerca dos tipos de mãe que podemos ser: aquela que nem existiu, não permitindo que seus filhos nascessem, fazendo um paralelo às sementes que caem no caminho e os pássaros as comem; aquela que dá a luz, mas não se dedica ao cuidado corporal e espiritual de seus filhos, fazendo um paralelo às sementes que caem em solo pedregoso, mas que por falta de terra não criam raízes fortes e morrem; aquela que dá a luz, cuida demasiadamente e sobrecarrega a família, sufocando-a com milhares de regras e murmurações, fazendo um paralelo às sementes que caíram entre os espinhos que cresceram e as sufocaram. Ainda, há um quarto tipo de mãe que podemos encontrar na Parábola, aquela que acolhe a vida e se doa a ela: a terra boa que possibilita que a semente se desenvolva e produza frutos.

Como sabemos, nós mulheres somos chamadas à submissão (Efésios 5, 22). Porém, não se trata de uma submissão passiva como a da terra que após a escavação acolhe a semente. Somos chamadas à submissão sacrifical! Desde muito jovem a menina vai aprendendo a viver o sacrifício, como por exemplo, através das cólicas menstruais. O homem tem maior aptidão a ser o herói em momentos que exigem explosão de coragem. Já a mulher realiza os seus atos heroicos através dos anos educando os filhos, meses de gestação e até mesmo nos intensos segundos da vida cotidiana, fazendo com que o sacrifício ganhe uma aparência de trivialidade.

Desta forma, o ser mulher tem maior facilidade para compreender a redenção, pois chegamos mais perto da morte ao trazermos a vida ao mundo. Vida essa que também é trazida através da vocação de ser mãe espiritual. A Santíssima Virgem teve depositado em si as duas formas de maternidade, a maternidade vivida na carne: Ela é a Mãe do Salvador; e a maternidade vivida pelo espírito: foi entregue como Mãe aos sacerdotes e a nós (representados por São João, aos pés da Cruz). Assim como foi pela graça de Deus que Ela pôde dar à luz ao Cristo e pode dar um amor especial aos filhos espirituais, nós também podemos, pela mesma graça, sermos fiéis à chamada que o Criador nos faz para termos e educarmos uma descendência divina.

Portanto, para que uma nova pessoa passe a existir, não basta que homem e mulher simplesmente se unam no ato conjugal, é necessário mais que isso, é essencial a graça, o toque divino! Segundo Fulton Sheen, no livro Três para Casar [3], a maternidade possui uma essência dupla: 1) a da procriação da vida, que se resume no processo biológico que outros seres também realizam; 2) a da infusão da alma, que ocorre por ação direta de Deus. Assim como o sacerdote prepara o pão para o sacrifício, a mãe prepara o bebê para o nascimento. Mas como é o Poder de Deus que muda o pão no corpo de Cristo, assim o Poder de Deus infunde a vida e a alma no corpo e o torna uma pessoa humana.

Apesar de toda a beleza exposta acerca da maternidade, um dos maiores problemas envolvidos na realidade familiar atual se trata da rejeição à esse serviço por nossa parte enquanto mulheres [5]. Tal rejeição é frequentemente justificada por nossa busca de prestígio social e carreiras bem-sucedidas, que requerem a dedicação de vários anos de trabalho incessante. Dessa forma, adiamos a responsabilidade da maternidade e educação dos filhos, enxergando-as como fardos e símbolos de subversão do sexo feminino.

Além da pressão social, usamos de outras inúmeras justificativas para recusar a maternidade, como, por exemplo, a imaturidade de recém-casados. Acerca disso, devemos deixar claro que a maturidade esperada para se casar deve ser a mesma esperada para ser pai ou mãe. Isto é, se o casal é imaturo para ter filhos, é imaturo para se casar também, uma vez que a abertura à vida está inclusa nas promessas matrimoniais [4]. Por isso, não é lícito que evitemos os filhos durante os primeiros anos de casados com a justificativa de “nos conhecermos melhor” ou “curtir a companhia um do outro”. Lembremo-nos que a fase de conhecimento mútuo deve ser vivida no namoro e que os filhos foram uma promessa que fizemos a Deus [4].

Outras justificativas muito recorrentes também na recusa à maternidade são: as dificuldades financeiras e o medo do parto [4]. Devemos entender que a maior riqueza possível de adquirirmos na terra são os filhos criados e bem-educados no amor a Deus. Para que isso aconteça não é necessário o excesso de bens e riquezas materiais, devemos tomar cuidado para não deixar que a ambição pelas riquezas da terra nos impeça de entregar um tesouro para Deus no céu. Que ingratas seríamos se recusássemos almas a Deus por caprichos materiais.

As dores do parto, por sua vez, permitem que nos configuremos à cruz de Cristo. Kimberly Hahn [4], em um dos seus testemunhos, disse que se lembrava de Nosso Senhor na cruz enquanto estava prestes a dar à luz a seu filho, esticada, nua e cheia de dores em meio a várias pessoas, assim como Cristo crucificado. Para nos dar a vida, Jesus passou pelo calvário e pela cruz. Nós também somos chamadas a viver nossa cruz para trazer uma nova vida ao mundo e mais do que isso, mais uma alma para o céu.

Não poderíamos deixar de pontuar que os filhos são um grande tesouro, mesmo que fisicamente contrariem um pedido frequente dos pais durante sua gestação: “o importante é vir com saúde”. Deus sabe de todas as coisas e se você, querida leitora, engravidar de um filho com alguma doença ou anomalia, saiba que ele tem o mesmo valor que todas as pessoas para Deus e deve ser acolhido com o mesmo amor e carinho [4].

De fato, dificilmente nos sentiremos prontas para a grande missão materna, mas é vontade de Nosso Senhor que vivamos essa realidade. Ele quer viver esse sonho conosco e quer nos capacitar para esse desafio, pois sabe que nos santificamos a cada fralda trocada e a cada renúncia realizada. Não deixemo-nos vencer pelo medo, tenhamos coragem para povoar o céu de santos!

“O Céu aguarda os Santos, Santos que amaram, Santos se faz de amor” (Juninho Cassimiro)
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. PAULO VI. Carta Encíclica Humanae Vitae. 9. ed. São Paulo: Paulinas, 2001.

  2. JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Mulieris dignitatem. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1988/documents/hf_jp-ii_apl_19880815_mulieris-dignitatem.html>. Acesso em 02 dez. 2019.

  3. SHEEN, Fulton J. Três para casar. São Paulo: Molokai, 2017.

  4. HAHN, Kimberly. O Amor que dá Vida. 1. ed. São Paulo: Quadrante, 2012.

  5. JUNIOR, Padre Paulo Ricardo de Azevedo. Maternidade. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/episodios/maternidade>. Acesso em: 02 dez. 2019.

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