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O que diz a Igreja sobre a homossexualidade?

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Bruno do Rosário Crespo

Campinas – SP, 2019

Trata-se de um tema bastante presente na mídia e em redes sociais, mas pouco compreendido pela maioria das pessoas, não só pelos críticos da Igreja como também por seus membros, que muitas vezes acabam se envolvendo em discussões acaloradas que, longe de chegar a algum acordo, acabam fomentando ainda mais discussões e preconceitos.

É importante sabermos que, por trás das críticas feitas à Igreja, existe uma intenção positiva, uma preocupação com um fundo de bondade. Quando se critica a posição da Igreja em relação à homossexualidade, a intenção positiva por trás do discurso é “a preocupação com o bem-estar e dignidade das pessoas, tanto como a repulsa à condenação e execração pública dos homossexuais” [1].

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) define homossexualidade como “relações entre homens ou mulheres que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante por pessoas do mesmo sexo” (CIC 2357). A seguir, aponta que tais relações sempre existiram na história da humanidade e que sua gênese ainda é pouco compreendida, ou seja, é possível que haja pessoas que desenvolvem essa tendência naturalmente no curso de suas vidas. Também afirma que “um número não desprezível de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundas” (CIC 2358).

A Igreja também reprova toda e qualquer atitude de discriminação contra as pessoas que possuam tendências homoafetivas: afirma que os homossexuais devem ser acolhidos com “respeito, compaixão e sensibilidade” e declara com firmeza que “se deve evitar em relação a eles qualquer sinal de discriminação injusta” (CIC 2358).

Dessa forma, a Igreja não discrimina a pessoa dos homossexuais e defende sua participação e acolhimento pela sociedade. Por outro lado, sua visão com relação aos atos homoafetivos é bem diferente. A Igreja entende que o pecado é uma ação incompatível com o amor devido a Deus ou ao próximo, impedindo-nos de nos santificar e, portanto, afastando-nos de Deus. Dessa forma, a Igreja condena as ações homoafetivas, entendendo que consistem em pecados e que, portanto, nos afastam de Deus.

É importante ressaltar aqui que a Igreja condena os atos homossexuais, e não a atração homossexual. Uma vez que não podemos escolher por quais pessoas nos apaixonamos, não podemos ser condenados se sentimos atração por alguém que seja do nosso sexo. O pecado está em transformar esses desejos em atos concretos, pois tais atos são voluntários e podem ser evitados.

A atração homossexual é denominada pela Igreja como uma desordem [2]. Isso não significa que ela seja pecaminosa, e sim que ela não segue o plano de Deus para o sexo. Não quer dizer que os homossexuais sejam anormais, apenas que suas inclinações não estão voltadas para sua finalidade verdadeira e que podem ser vencidas, como veremos adiante.

Mas por que as ações homoafetivas são vistas como pecados? Ou melhor, por que a Igreja crê que tais ações são incompatíveis com o amor? Afinal, duas pessoas homossexuais que se relacionam não podem se amar? E, se elas se amam, isso não seria agradável a Deus? Para responder a isso, primeiro precisamos entender qual a visão da Igreja sobre a sexualidade humana e, a partir daí, tirar conclusões sobre a moralidade sexual.


O que é o Sexo? [3]

A maioria das pessoas obviamente entende como o sexo funciona, mas pouquíssimas parecem saber o que ele é. Biologicamente, o sexo é o ato da procriação, porém o ser humano não é formado apenas por um corpo material, mas também por uma alma espiritual, que nos distingue dos outros animais. É por isso que, ao contrário dos animais, que são fundamentalmente egoístas, somos capazes de gestos de amor. O amor não é um sentimento, como muitos imaginam, mas um ato da vontade direcionada ao bem do outro. Em outras palavras, amar é querer o bem do outro, e isso é um gesto que somente o ser humano pode fazer.

Assim, para entender o que é o sexo, devemos ter como base não somente sua dimensão biológica, que compartilhamos com os animais, mas também sua dimensão humana, que diz respeito ao amor, a querer o bem do outro.

Comecemos com a seguinte pergunta: quais são as diferentes maneiras de adquirir ou possuir alguma coisa?

Em primeiro lugar, nós podemos comprar algo: eu dou alguma coisa e, em troca, recebo outra coisa. Dessa forma, posso dar dinheiro a um lojista e, em troca, adquirir uma camisa. Trocar um objeto por outro, ao invés de utilizar dinheiro, tem como base este mesmo raciocínio.

Outra forma como podemos adquirir algo é roubar de alguém, ou seja, tomar algo contra a vontade de seu dono. Quando roubo alguma coisa, não me importa o outro, mas sim que eu tenha o que eu quero.

A terceira e última maneira de adquirir algo é recebê-lo como presente. Essa forma difere das outras duas, pois quando dou um presente não me importa o que vou receber em troca, mas unicamente fazer o bem a outra pessoa.

Apliquemos agora estas três formas básicas às relações sexuais: de que forma podemos obter sexo?

A forma mais clara de comprar sexo é através da prostituição, mas não é a única. Na verdade, qualquer relacionamento onde o sexo é tratado como moeda de troca equivale a uma compra, pois os parceiros estão interessados somente em seus próprios benefícios: eu te dou alguma coisa e, em troca, você me dá outra coisa. Essas relações terminam tão logo um dos parceiros sente que não está recebendo o que gostaria com ela.

Quanto a “roubar” sexo, a forma mais clara – e também a mais abominável – de fazê-lo é através do estupro: eu obtenho o que quero contra a vontade do outro. Além dela, também se enquadra como roubo qualquer forma de obter sexo que se utilize da força física ou da pressão. Por exemplo, quando o namorado diz à namorada: “ou você dorme comigo, ou está tudo acabado entre nós”, trata-se de uma forma de obter sexo contra a vontade dela, ou seja, é uma forma de “roubar” sexo.

No caso do presente, temos de entender que presentear alguém é um gesto de amor. Damos um presente porque queremos o bem da pessoa e, como vimos, amar é querer o bem do outro. E, no caso do ato sexual, eu dou a mim mesmo de presente para o (a) parceiro (a). Quando o ato sexual é um presente, não interessa o que eu recebo em troca, mas unicamente fazer a outra pessoa feliz.

Não é preciso pensar muito para chegar à conclusão de que a terceira forma de se realizar um ato sexual é a única que representa um gesto de amor verdadeiro e é a única que faz os parceiros felizes. Isso porque, nas duas primeiras formas, o outro é tratado como um objeto; trata-se do que eu quero, ou do que me beneficia. No fundo, o outro não interessa muito para mim. O nome dessa atitude é egoísmo, e o egoísmo fere o amor, levando ao pecado. Tratar os outros como objeto não é humano; e sermos tratados como objetos com certeza não nos faz felizes.

Na terceira forma, eu reconheço o outro como um ser humano e respeito sua dignidade. É por isso que se trata de um gesto de amor, e é por isso que nos faz mais felizes. Resumindo, do ponto de vista humano, o ato sexual precisa ser uma expressão genuína de amor, ou seja, ele deve ser uma doação de si mesmo e seu objetivo é o bem do (a) parceiro (a).

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O que a Igreja ensina sobre a moralidade sexual? [4]

Para que o ato sexual seja uma doação genuína de si mesmo, algumas coisas devem ser consideradas. Um presente possui duas características essenciais: a primeira delas consiste no fato de que ele é do outro para sempre; você não dá um presente a outra pessoa esperando que ela o devolva algum dia, o nome disso é empréstimo. A segunda, por sua vez, consiste no fato de que o presente é dado por inteiro; você não presenteia alguém com metade de uma camisa ou com um terço dos bombons de uma caixa. Da mesma forma, para que o sexo seja uma doação de si e, portanto, um gesto de amor verdadeiro, ele precisa ter essas duas características.

O ato sexual não pode ser uma doação genuína de mim mesmo se eu não pretendo permanecer com o (a) parceiro (a) pelo resto de minha vida, pois isso implicaria em que o sexo não seria dele (a) para sempre. É por isso que a Igreja declara que o ato sexual é, primeiramente, uma realidade para ser vivida dentro do sacramento do matrimônio. Quando duas pessoas se casam na Igreja, elas assumem diante de Deus o compromisso de permanecerem juntas pelo resto de suas vidas. Enquanto esse compromisso não é firmado não podemos dizer que o sexo é um presente verdadeiro. E, se não é um presente verdadeiro, também não é um gesto de amor verdadeiro.

O ato sexual também não pode ser uma doação genuína de mim mesmo se eu não me entrego completamente para o (a) parceiro (a). Isso implica, de um lado, que não é lícito fazer sexo com mais do que um parceiro, que é o que chamamos de adultério, e que é vastamente condenado na Bíblia. A pornografia também se inclui nessa categoria de pecado, pois trata-se de desejar outra pessoa, e isso já pode ser considerado adultério (Mt 5, 28).

De outro lado, doar-se completamente ao parceiro implica em doar a própria fertilidade, e é por isso que a Igreja condena os métodos contraceptivos artificiais e a masturbação, que acabam ferindo o amor. Além dessas duas formas, os atos homossexuais também entram nessa categoria: dois homens ou duas mulheres que realizam sexo não estão doando sua fertilidade ao parceiro; se não há doação da fertilidade, então o sexo não é uma doação completa de si; se o sexo não é uma doação completa de si, então não é um gesto de amor verdadeiro; e, se não é um gesto de amor verdadeiro, ele fere o amor ao invés de alimentá-lo.

É por isso que a Igreja condena os atos homossexuais. Não se trata de discriminar as pessoas que possuem tendência homossexual, mas de dizer que elas não serão felizes ao relacionarem-se com alguém do mesmo sexo que elas, justamente porque esse relacionamento jamais poderá ser um ato de amor verdadeiro. E não somente serão infelizes do ponto de vista humano, mas também cometerão um pecado, pois não é possível aproximar-se de Deus sem amar. No entanto, a Igreja é totalmente contra a criminalização dos atos homossexuais, entendendo que a escolha entre o pecado e a virtude deve ser feita por livre e espontânea vontade.

Cabe ressaltar aqui que uma pessoa que é estéril não fere o amor ao realizar um ato sexual com seu cônjuge. O ato sexual deve ser uma doação completa de si. Ora, não podemos doar o que não possuímos. Portanto, uma pessoa estéril está se doando inteiramente ao cônjuge se sua condição for involuntária.

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O que a Igreja pede aos homossexuais?

Vimos, portanto, que a Igreja não é contra as pessoas que possuem tendências homossexuais, a quem ela acolhe entre seus fiéis, mas sim contra os atos homossexuais, exortando as pessoas que os praticam à conversão. Para entender a diferença entre esses dois posicionamentos, basta verificar que, da mesma forma, a Igreja não é contrária à presença de pessoas que se masturbam entre seus fiéis, mas condena o ato da masturbação e exorta essas pessoas à conversão.

Então, o que a Igreja pede aos homossexuais? O mesmo que ela pede aos heterossexuais: que busquem a santidade através da luta contra o pecado e da prática das virtudes. Cabe repetir aqui que não é pecado sentir atração por alguém do mesmo sexo; o pecado está em transformar essa atração em ato, pois o ato é voluntário, enquanto a atração não é.

No caso de alguém com tendências homossexuais, a principal virtude a ser praticada é a castidade. O sexo não é uma necessidade vital do ser humano, como respirar ou comer, nem um direito humano, como a liberdade e a igualdade. Qualquer pessoa tem a capacidade de passar a vida toda sem ter relações sexuais e a vida de muitos santos comprovam isso, especialmente a da Santíssima Virgem Maria e a de São José. Não nos deteremos aqui nos meios de se praticar a castidade, mas há uma série de materiais disponíveis sobre o assunto nos meios de formação católicos para os que necessitarem de um aprofundamento. O principal aqui é compreender que a castidade é uma virtude que pode ser alcançada por qualquer um.

Assim como os homossexuais, os heterossexuais também são chamados à castidade: no caso dos religiosos e dos solteiros, também é pedido que se abstenham de quaisquer relações sexuais.

Os casados também vivem a castidade: além de não lhes ser permitido consentir em desejos sexuais envolvendo outras pessoas que não seu cônjuge, também é necessário que se abstenham de ter relações sexuais durante certos períodos, que algumas vezes podem se estender por anos. Nestes períodos, não só os casados não realizam atos sexuais, como também não podem consentir em desejos sexuais, mesmo que envolvam o próprio cônjuge.

Diz o Catecismo:

As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã. (CIC 2359)

Ou seja, além da prática das virtudes, os homossexuais devem contar com o apoio dos amigos verdadeiramente interessados em seu crescimento, com a vida de oração, pela qual nos aproximamos de Deus, e, principalmente, com os sacramentos, em especial a Confissão e a Eucaristia, através dos quais a graça de Deus nos alcança e nos leva às alturas.

É uma dura batalha, e muitos desistem por tentar lutar sozinhos. É importante que os homossexuais percebam que não estão sozinhos e que podem contar com a Santa Mãe Igreja em todos os momentos. Sobretudo, é importante não perder a fé e recordar sempre: ninguém está mais interessado em nossa salvação do que o próprio Deus. E Ele nunca nos deixará lutar sozinhos.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. IVEREIGH, Austen. Homossexualismo e Contracepção. IN: IVEREIGH, Austen. Como defender a fé sem levantar a voz: Respostas educadas para questões polêmicas sobre a Igreja Católica. São Paulo: Quadrante, 2014.

  2. SEPER, Franjo C. Declaração Persona humana – Sobre alguns pontos de ética sexual. Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19751229_persona-humana_po.html>. Acesso em: 09 nov. 2019.

  3. Donjojohannes – Birett Ballett – Kathmedia. 3MC 49 – O que é o sexo?, 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GM6RNSR5TBk>. Acesso em: 09 nov. 2019.

  4. Donjojohannes – Birett Ballett – Kathmedia. 3MC 50 – O que a Igreja ensina sobre a moralidade sexual?, 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=b14fYES5XHQ>. Acesso em: 09 nov. 2019.

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