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Os Sacramentos

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Daniella Ferracioli

Núria Giacopini

Stéfanny Oliveira

Campinas - SP, 2020


--Antes de tudo, um sacramento não é mero ato simbólico. Um sacramento é “um sinal sensível e eficaz da graça, instituído por Jesus Cristo para santificar as nossas almas” [1].

--São e sempre serão sete os sacramentos instituídos pelo próprio Cristo: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência ou Confissão, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio – atingindo, portanto, “todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão”, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC 1210), pois Deus é um pai bondoso que não nos deixaria entregues à própria sorte [1], aumentando em nós a Graça e, assim, ajudando-nos a alcançar a santidade.

--Mas por que Jesus escolheu deixar-nos os sacramentos para a salvação de nossas almas? Certamente o poder de Deus poderia ter escolhido outro caminho, mas Ele “[...] quis atuar no interior do homem em coerência com a maneira pela qual o havia criado: unindo o material e o espiritual, o corpo e a alma.” [1]. Assim, o sacramento é um “sinal visível de uma graça invisível”, como nos diz Santo Agostinho. Afinal:

“Somos cidadãos de dois mundos, vivemos agora no mundo das coisas visíveis, pelas quais nos vem todo o conhecimento, mesmo o conhecimento de Deus; e, no entanto, somos também cidadãos de um mundo invisível, que é onde temos a nossa morada permanente. Jesus estabeleceu o seu sistema de aplicação da graça de acordo com esse duplo aspecto da nossa natureza. A graça seria invisível, como corresponde à sua natureza; mas viria a nós por meio das coisas visíveis de uso corrente.” [1, p. 260]

--De acordo com Leo Trese [1], todo sacramento possui, portanto, uma parte visível e uma parte invisível. A parte visível ou sensível é formada por duas coisas: pela matéria e pela formaa matéria consiste na “coisa real” que se utiliza, enquanto a forma consiste nas palavras que são ditas, conferindo significado à ação realizada. --A parte invisível, por sua vez, consiste na graça sacramental. Além disso, todo sacramento também exige um ministro (quem realiza ou administra o sacramento).

--Jesus se entregou na Cruz pela salvação da humanidade inteira, desde o primeiro até o último homem da História, porém nem todos são salvos por conta de sua própria liberdade individual [2]. Deus nos deu o livre-arbítrio e nos deixou a Igreja. Cabe a nós escolhermos abraçar ou não os instrumentos salvíficos que estão à nossa disposição.

--Os sacramentos podem ser divididos em três grupos: Iniciação Cristã, Cura e Serviço, conforme veremos a seguir.

1. SACRAMENTOS DE INICIAÇÃO CRISTÃ

--Os Sacramentos da Iniciação Cristã são: Batismo, Confirmação ou Crisma e Eucaristia. “Os fieis, de fato, renascidos do batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na Eucaristia” (CIC 1212). Em seguida, conheceremos um pouco sobre cada sacramento da Iniciação Cristã.

1.1. Sacramento do Batismo

--O Batismo que é a porta da vida do Espírito Santo e a porta para todos os sacramentos.

“Não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela gloria do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4)

--A passagem acima chama muito atenção, pois fala que na morte fomos batizados – isto é algo que pode gerar uma dúvida: se no batismo nascemos para ser filhos de Deus, como morremos com Cristo? Vamos voltar ao passado: sabemos de Adão e Eva e o pecado original, a desobediência. Nascemos com esse pecado herdado de nossos primeiros pais, e isso nos privou da graça que em Cristo foi restaurada, pois fomos libertos com sua morte e ressurreição. Portanto, pelo sacramento do batismo somos lavados, morremos para o pecado, somos trazidos para uma vida nova, regenerados como filhos de Deus tornando membros de Cristo e incorporados à Igreja participantes de sua missão. Por isso se batiza quando é criança, a fim de que sejam libertadas do poder das trevas e sejam transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus.

--Você pode se questionar: “Mas já sou um adulto e não fui batizado quando criança, não poderei ser filho de Deus?”, vejamos o que a Sagrada Escritura e os documentos da Igreja falam sobre isso:

“Disse-lhe Nicodemos: ‘Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?’ Responde-lhe Jesus: ‘Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus’’’ (Jo 3, 4-5).

--De acordo com o Código de Direito Canônico, para que o adulto possa ser batizado:

“[...] requer-se que tenha manifestado a vontade de receber o Batismo, que esteja suficientemente instruído sobre as verdades da fé e as obrigações cristãs e que tenha sido provado, por meio de catecumenato, na vida cristã; seja também admoestado para que se arrependa de seus pecados.” [3, Cân. 865]

--Existem três formas de batismo: de água, o qual é normalmente feito nas igrejas; de sangue, no caso aqueles que morriam em perseguição por causa do nome de Jesus; e o de desejo, que é quando as crianças morrem ao nascer ou já nascem mortas e a partir do desejo dos pais são batizadas. Em caso de urgência qualquer pessoa batizada poderá batizar desde que tenha a intenção e que derrame água sobre a cabeça daquele que receberá o sacramento dizendo “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”. [4]

--Diversas Igrejas batizam validamente, por isso, um cristão batizado em uma delas não pode ser rebatizado. Batizam validamente: as Igrejas Orientais; a Igreja Vetero-Católica; a Igreja Episcopal (Anglicana) do Brasil; a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB); a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB); e a Igreja Metodista. O batismo, em outras Igrejas, é válido se realizado com água e na mesma fé, utilizando a fórmula trinitária. Por razões teológicas, ou pelo sentido que dão ao sacramento, a Igreja Católica tem reservas quanto à validade do batismo realizado em algumas Igrejas e o considera inválido quando realizado em certas expressões religiosas. [4]

--A matéria desse sacramento é a água e a forma é as palavras: “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”. Quem realiza esse sacramento normalmente é o pároco, ou outro sacerdote ou diácono autorizado por ele. Mas, em caso de urgente necessidade, pode ser realizado por qualquer pessoa que já seja batizada.

1.2. Sacramento da Crisma ou Confirmação

--A Confirmação, como o Batismo, imprime na alma do cristão um sinal espiritual ou caráter indelével; razão pela qual só se pode receber este sacramento uma vez na vida (CIC 1317).

Inicialmente vale ressaltar que a diferença entre o crisma e a crisma. No feminino, “a crisma”, é o sacramento, a confirmação. No masculino, “o crisma”, é o óleo que o bispo consagra na Quinta-feira Santa, no qual é ungido os crismados.

--Esse é um sacramento de confirmação, do batismo, e de decisão. Normalmente quando criança, no batismo, não manifestamos esse compromisso, eles foram decididos pelos nossos pais e padrinhos. Agora já maduros decidimos que estamos preparados para seguir Jesus Cristo. E bater no peito para defender nossa fé cristã, com nossas palavras e obras, propagando a toda criatura. Temos que ser como os apóstolos em pentecoste, que não tinham vergonha, não tinham medo, deixaram se conduzir pelo Espirito Santo, fazendo a vontade de Deus. Jesus nos enviou, quer que sejamos seus soldados contra toda a maldade do mundo atual: “‘Como o Pai me enviou, também eu vos envio’. Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: ‘recebei o Espirito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos’” (Jo 20, 21-23).

--Por meio da crisma, o fiel recebe os sete dons do Espírito Santo, que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do mesmo Espírito (inspirações divinas), sendo eles: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus (CIC 1830). A matéria desse sacramento é o óleo Sagrado Santo Crisma. O ministro ordinário desse sacramento é o Bispo, ou extraordinário o presbítero autorizado. A forma é pelas palavras: “N.., recebe por esse sinal o dom do Espírito Santo” Respondendo: “Amém”. Poderá receber esse sacramento todo católico batizado e que esteja na graça de Deus.

1.3. Sacramento da Eucaristia

--“A Santa Eucaristia conclui a iniciação cristã. Os que foram elevados à dignidade do sacerdócio régio pelo Batismo e configurados mais profundamente a Cristo pela Confirmação, estes, por meio da Eucaristia, participam com toda a comunidade do próprio sacrifício do Senhor.” (CIC 1322).

--A Eucaristia é o sacramento dos sacramentos. Como o batismo é a porta para os outros sacramentos, a Eucaristia é o centro, a fortaleza e a constância para os demais, pois na Eucaristia ganhamos força e coragem para seguir na caminhada rumo ao céu, onde nos unimos em comunidade e oferecendo a Jesus tudo o que mais dói e agradecendo por tudo o que Ele fez e faz por nós, se sacrificando em toda Santa Missa. Quando comungamos recebemos Jesus vitorioso, libertador. Passamos a ser como Ele é. Por isso, comungar é defender e promover a vida, paz, justiça e perdão. É assumir um compromisso e colocar-se contra todas as formas de pecado pessoal e social.

“E tomou um pão, deu graças, partiu e deu-o a eles, dizendo: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isso em minha memoria’. E, depois de comer, fez o mesmo com a taça, dizendo: ‘Essa taça é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós’”.--------(Lc 22, 19-20)

--Jesus instituiu a Eucaristia, por isso Ele se faz presente em toda Santa Missa por meio do sacerdote. Como declara São João Crisóstomo:

“Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tornem Corpo e Sangue de Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura de Cristo, pronuncia essas palavras, mas sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o meu corpo, diz ele. Estas palavras transformam as coisas oferecidas”.

--Todo católico batizado e que já recebeu esse sacramento, pode receber a Eucaristia, desde que esteja em estado de graça, se acaso tenha consciência de algum pecado, primeiramente procure um sacerdote para se confessar, estando assim limpo para participar da ceia do Senhor.

--Em João (6, 56), Jesus diz: “Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele”. Que possamos estar sempre em comunhão com Cristo, buscando com frequência a reconciliação por meio da confissão, e estar mais unido ganhando forças para o nosso dia a dia.

2. SACRAMENTOS DE CURA

------“Deixai-vos reconciliar com Deus”----------(2 Cor 5, 20).

--Apesar de o sacramento do Batismo conferir vida nova ao homem, nossa frágil natureza humana nos faz sujeitos ao pecado e a afastarmo-nos da amizade de Deus, pois "temos este tesouro em vasos de barro" (2 Cor 4, 7). Deste modo, preocupado em nos perdoar e restituir nossa saúde quantas vezes fossem necessárias, Jesus nos deixou dois sacramentos de Cura: a Penitência e a Unção dos Enfermos (CIC 1421), pois "o justo cai sete vezes, mas ergue-se, enquanto os ímpios desfalecem na desgraça" (Pr 24, 16).

2.1. Sacramento da Penitência

--O sacramento da Penitência ou Confissão obtém-nos o perdão de nossos pecados (que são nada menos do que as ofensas feitas a Deus) e nos reconcilia com a Igreja (CIC 1422). A Confissão cancela o castigo eterno e a frequência com que recebemos este sacramento aumenta em nós a graça santificante [1].

--São necessários cinco passos ou condições para o sacramento da Confissão, que serão explicados a seguir: exame de consciência; arrependimento; propósito de não mais pecar; confissão ou acusação; e a satisfação ou penitência.

--Passo 1 – Exame de Consciência

--Devemos realizar um bom exame de consciência a fim de encontrar em nós os pecados que cometemos. Este exame deve ser feito com base na Palavra de Deus, a partir do Decálogo ou Dez Mandamentos e das Bem-Aventuranças (CIC 1454). Há bons livros e referências que esmiúçam os pecados de acordo com os Dez Mandamentos, o que pode nos ajudar a realizar um bom exame de consciência.

--Passo 2 – Arrependimento ou Contrição

--Devemos nos arrepender verdadeiramente de nossos pecados; caso contrário, confessaremos apenas “da boca para fora”. O arrependimento ou contrição consiste em “uma dor da alma e uma detestação do pecado cometido” (CIC 1451). Nosso arrependimento pode ser perfeito ou imperfeito: será perfeito se for motivado pelo amor para com Deus, porque temos consciência de que nosso pecado O ofendeu e nós o amamos acima de todas as coisas; já o segundo caso ocorrerá quando nos arrependemos por outros motivos, como por ter ofendido alguém, mas não necessariamente a Deus (CIC 1452, 1453, 1492).

--Passo 3 – Propósito de não mais pecar no futuro

--Este passo, que é considerado parte do anterior (CIC 1451), nos indica que devemos ter o firme, definitivo e imediato propósito de não voltar a pecar, ainda que aparentemente confessemos sempre os mesmos pecados, pois “implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça” (CIC 1431).

--Passo 4 – Confissão ou Acusação dos pecados

--A confissão em si consiste na acusação de nossos pecados ao sacerdote: “Pela confissão, o homem encara de frente os pecados de que se tornou culpado; assume a sua responsabilidade e, desse modo, abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja” (CIC 1455).

--Quais pecados devemos confessar? A Igreja nos obriga a confessar nossos pecados mortais (aqueles contra os Dez Mandamentos, pois ferem mais gravemente nossa alma) (CIC 1456) e, embora não nos obrigue, nos orienta a confessar também nossos pecados veniais (ou faltas cotidianas), pois “a confissão regular dos nossos pecados veniais ajuda-nos a formar a nossa consciência, a lutar contra as más inclinações, a deixarmo-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito” (CIC 1548).

--Importante salientar que não devemos esconder nenhum pecado, seja por orgulho ou por vergonha:

“Quando os fiéis se esforçam por confessar todos os pecados de que se lembram, não se pode duvidar de que os apresentam todos ao perdão da misericórdia divina. Os que procedem de modo diverso, e conscientemente ocultam alguns, esses não apresentam à bondade divina nada que ela possa perdoar por intermédio do sacerdote. Porque, ‘se o doente tem vergonha de descobrir a sua ferida ao médico, a medicina não pode curar o que ignora’” (CIC 1456).
“Se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade” (1 Jo 1, 9).

--Você pode se questionar: “Mas por que preciso do sacerdote e não posso confessar-me diretamente a Deus? ”, em primeiro lugar, porque o próprio Cristo determinou que assim o fosse: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 23). Além disso:

“Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote exerce o ministério do bom Pastor que procura a ovelha perdida: do bom Samaritano que cura as feridas; do Pai que espera pelo filho pródigo e o acolhe no seu regresso; do justo juiz que não faz acepção de pessoas e cujo juízo é, ao mesmo tempo, justo e misericordioso. Em resumo, o sacerdote é sinal e instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador” (CIC 1465).

--Passo 5 – Satisfação ou Penitência

--Embora a absolvição apague o pecado, é necessário cumprirmos uma penitência pelo dano cometido, ou seja, uma satisfação que repare nosso pecado. É uma questão de justiça (CIC 1459). A penitência é um ato para associar-nos ao Sacrifício de Cristo, ainda que qualquer penitência seria insuficiente pois ficaria muito aquém do amor de Deus por nós, que nos envolve com sua infinita misericórdia. A penitência é escolhida pelo sacerdote e pode consistir em orações, obras de misericórdia, dentre outros (CIC 1460).

--Em suma, o sacramento da Confissão é “um encontro maravilhoso com o Amor e a Misericórdia de Deus. É o único tribunal da face da Terra onde nos declaramos culpados e saímos inocentes, porque o Juiz e o Advogado são a mesma pessoa: o próprio Jesus” [5]. A própria Palavra de Deus nos mostra isso: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele.” (Jo 3, 16-17)

--Para São Josemaría Escrivá, a Confissão era o “sacramento da alegria”. No entanto, apesar de tantos benefícios, este sacramento é muito banalizado – sobre isto vale conferir um outro artigo produzido pela nossa equipe [6].

--Para ilustrar a grandeza da Confissão, podemos citar aqui a história abaixo:

“Um santo teve uma visão na qual via Satanás de pé e de frente para o trono de Deus, o qual pôs-se a ouvir o que o espírito maligno lhe dizia:
- Por que me condenastes, se Vos ofendi apenas uma vez, dado que salvastes milhares de homens que Vos ofenderam várias vezes?
E Deus lhe respondeu:
- Mas, pediste-Me alguma vez perdão?” [7]

--Peçamos a Deus que aumente em nós o amor por Ele para que evitemos todo o pecado e para que um dia possamos dizer como São Domingos Sávio: “Antes morrer do que pecar!”.


2.2. Sacramento da Unção dos Enfermos

--O sacramento da Unção dos Enfermos ou da Extrema-Unção é “um sacramento instituído para alívio espiritual e mesmo temporal dos fiéis que correm risco de morte por doença ou velhice” ou acidente [1].

“Pela santa Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, toda a Igreja encomenda os doentes ao Senhor, sofredor e glorificado, para que os alivie e os salve: mais ainda, exorta-os a que, associando-se livremente à paixão e morte de Cristo, concorram para o bem do povo de Deus” (CIC 1499).

--Os efeitos da graça proveniente deste sacramento são:

“A união do doente à paixão de Cristo, para o seu bem e para o de toda a Igreja; o conforto, a paz e a coragem para suportar cristãmente os sofrimentos da doença ou da velhice; o perdão dos pecados, se o doente não pôde obtê-lo pelo sacramento da Penitência; o restabelecimento da saúde, se tal for conveniente para a salvação espiritual; a preparação para a passagem para vida eterna. ” (CIC 1532)

--Este sacramento também foi instituído por Cristo, como pode ser conferido nas Sagrada Escritura: “Expeliam numerosos demônios, ungiam com óleo a muitos enfermos e os curavam.” (Mc 6, 13) e “Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, lhe serão perdoados.” (Tg 5, 14-15).

--Cabe dizer que, para obter o perdão dos pecados, é necessário que o doente receba também o sacramento da Confissão. Porém, em casos em que o doente esteja inconsciente e não consiga se confessar, a Unção dos Enfermos também alcançar-lhe-á o perdão dos pecados [1].

--Muitas pessoas bloqueiam-se diante da ideia de receber ou permitir que algum ente querido receba este sacramento, pelo medo de que ele “cause a morte”. Este sacramento realmente tem como objetivo principal “preparar a alma para a morte, se esta chegar” [1], ou seja, é “uma preparação para a última passagem” (CIC 1523). No entanto, pode ser que ocorra o contrário, pois este sacramento “[...] produz também um efeito secundário e condicional: devolver a saúde corporal ao enfermo ou a quem está com algum ferimento grave” [1]. O doente que tiver sua saúde restabelecida pode, no futuro, receber o sacramento novamente (CIC 1515).

--Negar a Unção dos Enfermos a alguém por medo de perdê-lo é um erro. É falta de caridade. O sacerdote deve ser chamado com “a antecedência suficiente para que a Unção dos Enfermos produza no paciente todos os seus efeitos, tanto espirituais como físicos” [1].


3. SACRAMENTOS AO SERVIÇO DA COMUNHÃO

--Os sacramentos da Ordem e do Matrimônio são ambos instituídos para os outros, estão ordenados à salvação de outrem (CIC 1534), pondo-se ao serviço de Deus. Como diz Santo Tomás de Aquino: “A ordenação não é celebrada para a salvação de um indivíduo, mas de toda a Igreja”.

Tanto a Ordem quanto o Matrimônio visam a construção do Povo de Deus, isto é, eles são um canal por meio do qual Deus faz o amor fluir para o mundo.

3.1. Sacramento da Ordem

--Aqueles que recebem o sacramento da Ordem são consagrados para serem, em nome de Cristo, “pela palavra e pela graça de Deus, os pastores da Igreja”. Ou seja, é o sacramento por meio do qual a missão confiada por Cristo a seus Apóstolos continua sendo exercida, na Igreja, até o fim dos tempos (CIC 1536).

--“Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). Os ordenados são escolhidos por Jesus; cabe a Ele a escolha dos sacerdotes, dos bispos, assim como fez com os Santos Apóstolos, fazendo-os participar de sua missão e autoridade. Elevado à direita do Pai, Ele não abandonou seu rebanho, mas o guarda, por meio dos Apóstolos, sob sua constante proteção.

--O ministro católico ordenado não celebra os sacramentos por força própria, mas in persona Christi. Ou seja, pela sua ordenação, cresce nele a força de Cristo, que transforma, cura e salva (CIC 1548).

Santo Tomás nos ensina que: “Só Cristo é verdadeiro sacerdote, os outros são Seus servos”. São João Maria Vianney afirma: “O sacerdote continua sobre a Terra a obra redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

--Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja “um reino de sacerdotes para seu Deus e Pai”. Toda comunidade dos fiéis é, como tal, sacerdotal (CIC 1546).

--A doutrina Católica reconhece que existem dois graus de participação ministerial no sacerdócio de Cristo: o episcopado (ao qual pertencem os Bispos, sucederam os Apóstolos, são ordenados pelo Espírito Santo) e o presbiterado (associados na dignidade sacerdotal, são consagrados à imagem de Cristo sumo e eterno sacerdote, anunciará a Palavra de Deus, celebrará os sacramentos e presidirá a Sagrada Eucaristia). Além desses, há também o diaconado (representante do Cristo que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua Vida em resgate de muitos), destinado a ajudá-los e a servi-los. Esses graus são conferidos pelo ato sacramental denominado “ordenação” (CIC 1554).

--Aos discípulos eleitos, chamados apóstolos, o divino Mestre confia as quatro atribuições particulares do sacerdócio: Oferecer o santo sacrifício; Perdoar os pecados; Pregar o Evangelho e Governar a Igreja.


3.2. Sacramento do Matrimônio

--Por fim, o último sacramento instituído por Deus é o Matrimônio. A vocação matrimonial está inscrita na própria natureza do homem e da mulher; Deus, que por amor, criou o homem, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano, pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é o verdadeiro Amor (CIC 1604).

--Na Sagrada Escritura, em Gênesis, temos: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2, 18), ou seja, Deus cria a mulher para o homem sendo “carne de sua carne”; ela lhe foi dada como um “auxílio”. O homem e a mulher foram criados um para o outro: “Por isso deixará o homem o pai e a mãe, e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2, 24). “De modo que eles já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19,6).

--Desde a Antiguidade, a união sempre foi ameaçada pela discórdia, pelo espírito de dominação, pela infidelidade, pelos ciúmes e por conflitos que podem chegar ao ódio e à ruptura do relacionamento (CIC 1606). Essa desordem vem do pecado e não faz parte da natureza do homem e da mulher (CIC 1607). No entanto, seguindo a Cristo, renunciando a si mesmo e tomando cada um a cruz que lhe é dada, os esposos poderão “compreender” o sentido original do casamento e vivê-lo com a ajuda de Cristo (uma união sobre a rocha firme que é Cristo Jesus) (CIC 1615).

--Foi o próprio Cristo quem elevou o matrimônio natural à dignidade de sacramento (CIC 1601). Este sacramento tem duas finalidades: o bem dos cônjuges e a geração e educação dos filhos. O amor entre os esposos deve ser total, livre, fiel e fecundo [8]. Os efeitos deste sacramento conferem aos cônjuges as graças necessárias para o cumprimento de sua dupla finalidade (CIC 1638), já mencionada. Recomenda-se que os futuros esposos se preparem para este sacramento e que estejam em estado de graça para recebê-lo, por meio do sacramento da Penitência (CIC 1622). Para São Josemaría Escrivá, o matrimônio é uma verdadeira vocação sobrenatural, um caminho de santidade para os esposos.

--Os ministros deste sacramento são os próprios esposos, que livremente exprimem seu consentimento, doando-se um ao outro e ofertando suas próprias vidas, unindo-as assim à oferta de Cristo (CIC 1621, 1623). O consentimento desta união é consumado quando os esposos se tornam uma só carne (CIC 1627). Em sua carta aos Efésios, São Paulo refere-se à grandiosidade do mistério do matrimônio, comparando-o ao mistério pascal de Cristo e Sua entrega pela Igreja, Sua esposa: "Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la [...]” (Ef 5, 25-26).

--O consentimento matrimonial (“Eu te recebo por meu marido [...], Eu te recebo por minha esposa [...]”) é o elemento indispensável que produz o matrimônio, sem ele não há casamento. Este consentimento consiste em um “ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem mutuamente” e deve ser um ato de vontade própria dos noivos (CIC 1627).

--Pode parecer difícil e até impossível se unir, por toda a vida, a um ser humano. Por isso a importância de anunciar a Boa Nova de que Deus nos ama, que os esposos participam desse amor, que Ele os conduz e mantém e que, por meio de sua fidelidade, podem ser testemunhas do amor fiel de Deus (CIC 1648).

--Como já mencionado, a instituição matrimonial e o amor conjugal estão ordenados à procriação e à educação dos filhos, que constituem o ponto alto da sua missão (CIC 1652). Esse amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e a se realizar na obra comum de preservação da criação: “Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1, 28). Os pais são os principais e os primeiros educadores de seus filhos. Neste sentido, a tarefa fundamental do Matrimônio e da família é estar a serviço da vida. Peçamos a graça de sermos casais abertos a vida (CIC 1653).

--“Os esposos cristãos se ajudam mutuamente a se santificarem na vida conjugal, como também na aceitação e na educação dos filhos” (CIC 1641).

--Em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e até hostil à fé, as famílias cristãs têm importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família de José e Maria (CIC 1656). Portanto, a família deve ser valorizada e respeitada. Peçamos a vinda do Espírito Santo e as bênçãos de Maria e José, sobre todos os lares e que os pais sejam para os filhos os primeiros mestres da fé. O lar deve ser a primeira escola de vida cristã.

--Segue abaixo um pequeno trecho da vida conjugal de Santa Zélia e São Luís Martin, pais de Santa Terezinha do Menino Jesus [9]:

“São Luís e Santa Zélia souberam viver plenamente o Sacramento do Matrimônio com total abertura à vida e aceitação dos sofrimentos e sacrifícios. Santa Teresinha reconhecia a santidade dos pais em vida, dizia: “O bom Deus deu-me um pai e uma mãe mais dignos do céu que da terra. O ambiente de fé, amor e virtude que Santa Teresinha viveu em sua infância permitiu brotar e desenvolver seu chamado à santidade”.

--Que possamos pedir a intercessão de Santa Zélia, de São Luís Martin e de Santa Teresinha do Menino Jesus pelas famílias e por todos aqueles que um dia receberão este sacramento tão belo, que é o matrimônio.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. TRESE, Leo. A fé explicada. 14 ed. São Paulo: Quadrante, 2015.

  2. JUNIOR, Padre Paulo Ricardo de Azevedo. O que são os sacramentos? Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-sao-os-sacramentos>. Acesso em 07 mar. 2020.

  3. Código de Direito Canônico. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf>. Acesso em 14 mar. 2020.

  4. AQUINO, Prof. Felipe. Batismo. 3ª Edição. São Paulo: Editora Canção Nova, 2007.

  5. AMARAL, Padre Francisco. Os cinco passos para uma boa confissão. Disponível em: <https://youtu.be/4KHPheqsZb4>. Acesso em 07 mar. 2020.

  6. GIACOPINI, T.; GIACOPINI, N. A banalização da confissão. Acampamento Juvenil de Campinas. Disponível em: <https://www.acampscampinas.com.br/post/a-banaliza%C3%A7%C3%A3o-da-confiss%C3%A3o>. Acesso em 07 mar. 2020.

  7. Arautos do Evangelho. O Tesouro da Confissão. Disponível em: <http://www.oratorio.org.br/imprimir/3346.html>. Acesso em 07 mar. 2020.

  8. São João Paulo II. Teologia do Corpo: o amor humano no plano divino. 1 ed. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014.

  9. JUNIOR, Padre Paulo Ricardo de Azevedo. O matrimônio, caminho de santidade. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ucy-ySbtl_E>. Acesso em 13 de mar. 2020.

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