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Solenidade de Corpus Christi



“Ao levar a Eucaristia pelas ruas e praças, queremos submergir o Pão descido do céu no cotidiano de nossa vida; queremos que, Jesus caminhe onde nós caminhamos, que viva onde vivemos.” (Bento XVI)


Hoje, quinta-feira, dia 16 de junho, após a oitava de Pentecostes (agora somente devoção particular, pois foi retirada do calendário litúrgico em 1970), celebramos a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, isto é, a Solenidade de Corpus Christi. Conheçamos agora sua história e tamanha importância para a vida da Igreja.

Apesar de celebrarmos todos os anos, a Solenidade de Corpus Christi não existia na Igreja desde sempre, sendo instituída pelo Papa Urbano IV em 11 de agosto de 1264 através da bula Transiturus de hoc mundo1. Para tal instituição foram necessários dois acontecimentos principais: O primeiro, uma visão de Santa Juliana de Liège, uma religiosa agostiniana belga e, o segundo, um milagre eucarístico que ocorreu na Itália, na cidade de Bolsena. Ambos os fatos foram conhecidos pessoalmente pelo Papa Urbano IV2.

Santa Juliana de Liège foi para o convento das irmãs agostinianas com cinco anos de idade, juntamente com sua irmã, após ficarem órfãs. Lá discerniu sua vocação e tornou- se monja agostiniana. Costumava ler os escritos de Santo Agostinho e São Bernardo e apresentava um dom especial para a contemplação, vivendo assim a presença de Cristo no Sacramento da Eucaristia. Foi então, com 16 anos, que Santa Juliana teve a sua primeira visão, que foi narrada pelo Papa Bento XVI em 2010:

[..] A visão apresentava a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor levou-a a compreender o significado daquilo que lhe tinha aparecido. A lua simbolizava a vida da Igreja na terra, a linha opaca representava, ao contrário, a ausência de uma festa litúrgica, para cuja instituição se pedia a Juliana que trabalhasse de maneira eficaz: ou seja, uma festa em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento. 1, 2


Santa Juliana guardou essa visão em segredo durante aproximadamente 20 anos, confidenciando apenas a outras duas irmãs agostinianas. Um tempo depois, elas compartilharam o segredo com um estimado padre da época que incentivou a pedir a interpretação a teólogos e escolásticos. Até que essa visão foi submetida ao bispo de Liège, D. Roberto de Thourotter. Mesmo hesitando inicialmente, ele aceitou a proposta de Santa Juliana e instituiu a Festa de Corpus Christi em sua diocese e, em seguida, a festa foi ganhando proporção no território local, nas dioceses vizinhas e se tornando uma tradição na Bélgica. Apenas anos depois, após a morte de Santa Juliana, que essa festa foi instituída em toda Igreja, como preceito universal, pelo Papa Urbano IV, que conhecera Juliana quando foi arquidiácono na diocese de Liège.

O segundo acontecimento que contribuiu para a Solenidade de Corpus Christi foi o milagre de Bolsena-Orvieto, realizado por Deus com um sentido particular: firmar a fé vacilante de um sacerdote2. Esse milagre aconteceu em 1263, um ano antes da instituição de Corpus Christi. Um padre alemão parou na cidade de Bolsena depois de uma peregrinação e segundo as histórias, ele era um padre piedoso, mas tinha dificuldade em acreditar que Cristo, de fato, estivesse presente na hóstia consagrada, ou seja, na transubstanciação. Foi então que durante uma Santa Missa, celebrada na tumba de Santa Cristina, que o milagre aconteceu:

[...] mal havia ele pronunciado as palavras da consagração, quando sangue começou a escorrer da Hóstia consagrada, gotejando em suas mãos e descendo sobre o altar e o corporal. O padre ficou imediatamente perplexo. A princípio, ele tentou esconder o sangue, mas então interrompeu a Missa e pediu para ser levado à cidade vizinha de Orvieto, onde o Papa Urbano IV então

residia. 2


O Papa ouviu o seu relato, o absolveu e mandou emissários para investigar imediatamente. Depois que todos os fatos foram confirmados, ele ordenou que o bispo da diocese trouxesse a Orvieto a Hóstia e o pano de linho que apresentava as manchas de sangue. Juntamente com todo o clero, o Papa Urbano IV realizou uma grande procissão e introduziu as relíquias na igreja que estão conservadas reverentemente até hoje, a Catedral de Orvieto.

Depois disso, o Papa pediu para que Santo Tomás de Aquino escrevesse os textos litúrgicos da Solenidade de Corpus Christi, dos quais nasceram os hinos mais belos em honra ao Santíssimo Sacramento que cantamos até hoje.

Por essa razão, é essencial compreendermos o esplendor dessa festa litúrgica. Vejamos as três finalidades que Nosso Senhor Jesus Cristo pediu essa festa a Santa Juliana: “aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento”. Infelizmente, o número de profanações e sacrilégios têm se multiplicado e por isso o dia de Corpus Christi é um dia de reparação, pela falta de fé presente em muitos católicos, pela falta de zelo com a Santa Missa e por receberem a Santa Eucaristia de maneira irreverente, a qual possui a presença real de Cristo2.


O Catecismo da Igreja Católica (1407) nos ensina que: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja.”

“O unigênito Filho de Deus, querendo fazer-nos participantes da sua divindade, assumiu nossa natureza, para que, feito homem, dos homens fizesse deuses [...] a fim de que permanecesse para sempre entre nós o memorial de tão imenso benefício, ele deixou aos fiéis, sob as aparências do pão e do vinho, o seu corpo como alimento e o seu sangue como bebida. Ó precioso e admirável banquete, fonte de salvação e repleto de toda suavidade! Que há de mais precioso que este banquete? [...] É o próprio Cristo, verdadeiro Deus, que se nos dá em alimento. Poderia haver algo de mais admirável que este sacramento?

De fato, nenhum outro sacramento é mais salutar do que este; nele os pecados são destruídos, crescem as virtudes e a alma é plenamente saciada de todos os dons espirituais. [...] Ninguém seria capaz de expressar a suavidade deste sacramento; nele se pode saborear a doçura espiritual em sua própria fonte; e torna-se presente a memória daquele imenso e inefável amor que Cristo demonstrou para conosco em sua Paixão.

Enfim, para que a imensidade deste amor ficasse mais profundamente gravada nos corações dos fiéis, Cristo instituiu este sacramento durante a última Ceia... A Eucaristia é o memorial perene da sua Paixão, o cumprimento perfeito das figuras da Antiga Aliança e o maior de todos os milagres que Cristo realizou [...]”3.


Deus nos persegue, corteja o nosso coração com afetos, em uma busca incansável através de tudo que é bom, belo e verdadeiro para nos levar a conhecer seu amor e alegria plena da sua presença. Seu coração para conosco é maior do que jamais podemos imaginar. Sendo Ele Deus santo, belo e justo, quer elevar o nosso coração através da contemplação para nos tornarmos íntimos do seu Amor4.

Ó alma cristã, reentra em ti mesma e considera por um instante quanto te ama o Coração Amantíssimo de Jesus. “Apesar de tuas repetidas recaídas, tuas infidelidades, mesmo quando te afastavas para longe, tapavas os ouvidos para não ouvir sua voz amorosa, que te repetia docemente “Filha minha, volta arrependida ao meu Coração” [..] Finalmente cega pelas paixões, enganada pelo prazer, seduzida pelo demônio, ousando expulsar o divino amante da morada de tua alma [...] Alma cristã, não será essa a história de sua vida?” 5.


Adoro Te Devote


(Santo Tomás de Aquino)


Eu te adoro, ó Cristo, Deus no santo altar,

Em teu sacramento, vivo a palpitar!

Dou-te sem partilha, vida e coração,

Pois de amor me inflamo na contemplação!


Tato e vista falham, bem como o sabor,

Só por meu ouvido tem a fé vigor:

Creio o que disseste, ó Jesus, meu Deus!

Verbo da Verdade vindo a nós dos Céus!


Tua divindade não se viu na Cruz,

Nem a humanidade vê-se aqui, Jesus!

Ambas eu confesso como o bom ladrão Um lugar es pero na eternal mansão!


Não me deste a dita, como a São Tomé,

De tocar-te as chagas, mas eu tenho fé!

Faze que ela cresça como o meu amor,

E a minha esperança tenha novo ardor!


Dos teus sofrimentos é memorial Este Pão de Vida,

Pão Celestial!

Dele eu sempre queira mais me alimentar,

Sentir-lhe a doçura divinal sem par!


Bom Jesus piedoso, Cristo, Meu Senhor,

Lava no teu Sangue, a mim, tão pecador!

Pois que uma só gota pode resgatar,

Do pecado o mundo e o purificar!


Ora te contemplo sob espesso véu,

Mas desejo ver-te, Bom Jesus, no céu!

Face a face um dia e de te gozar Nessa doce Pátria e

sem fim te amar.


Amém.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


  1. URBANO VI. Bula Transiturus de Hoc Mundo. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1264. Disponível em: https://www.vatican.va/content/urbanus- iv/es/documents/bulla-transiturus-de-mundo-11-aug-1264.html. Acesso em: 09 jun 2022.

  2. RICARDO, P. P. Uma visão e um milagre: a origem de “Corpus Christi”. Christo Nihil Præponere. 31 maio 2018. Disponível em: https://padrepauloricardo.org/blog/uma-visao-e-um-milagre-a-origem-de-corpus-christi. Acesso em: 09 jun 2022.

  3. AQUINO, T. Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo. Liturgia das horas online. Disponível em: https://liturgiadashoras.online/santissimo-sacramento-do- corpo-e-sangue-de-cristo/. Acesso em: 09 jun 2022.

  4. ELDREDGE, J. A grande aventura masculina: como encontrar seu coração selvagem e descobrir uma vida cheia de desafios e emoções. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017.

  5. ELDREDGE, J. A grande aventura masculina: como encontrar seu coração selvagem e descobrir uma vida cheia de desafios e emoções. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017.


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