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São Pedro e a missão do Papa na Igreja

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Bruno do Rosário Crespo

Campinas

2020


--Não é possível compreender quem é o Papa e qual a sua missão sem antes entender algumas características da verdadeira Igreja de Cristo, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

--O termo “Igreja” vem do grego ekklesia, e significa “os convocados”. Quem são os convocados por Deus? São todos os que foram batizados e creem nEle. Nas palavras de São Paulo, Cristo é a “cabeça” da Igreja, e ela é Seu “corpo” (Cl 1, 18). Logo, fazendo parte da Igreja, somos parte do próprio corpo de Cristo, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC 748-757). Quando celebramos os sacramentos e ouvimos a Palavra de Deus, Cristo está em nós e nós estamos nEle. Assim, a Igreja não é somente mais uma instituição humana como todas as outras, mas a presença do próprio Deus na humanidade, e isso, por si só, já é uma razão pela qual devemos amá-la apesar dos inúmeros pecados de seus membros. Deus a escolheu irrevogavelmente, mesmo com os nossos pecados.

--Deus fundou a Igreja porque não quer nos salvar individualmente, mas em comunhão uns com os outros (CIC 758-781, 802-804). Deus não é um ser solitário, mas uma comunidade de amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Da mesma forma, também nós somos chamados a viver no amor uns para com os outros, tanto na Terra como no Céu.

--A Igreja perpetua a missão de Cristo de santificar todas as pessoas, transmitindo os ensinamentos dEle e celebrando os sacramentos instituídos por Ele. Por isso, podemos dizer que a Igreja é um pedaço do Céu sobre a Terra (CIC 763-769, 774-776, 780). Essa missão foi transmitida pelo próprio Jesus: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio” (Jo 20, 21); “Ide, fazei discípulos de todas as nações; batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até o fim dos tempos” (Mt 28, 19).

--Assim sendo, Cristo continua unido à Igreja ao longo dos séculos, sobretudo pelos sacramentos do Batismo e da Eucaristia. E Ele a ama como um esposo ama a sua esposa, entregando Sua vida por ela (CIC 796). Essa comparação era feita já no Antigo Testamento e se completou no sacrifício da Cruz, quando do peito chagado de Cristo nasceu a Igreja.

--Além de ser a esposa de Cristo, a Igreja é também o Templo do Espírito Santo, o lugar do Universo onde Ele se encontra integralmente (CIC 797-801, 809). Jesus disse que onde duas ou mais pessoas estivessem reunidas em Seu nome, aí Ele estaria (Mt 18, 20), e isso se dá por meio do Espírito Santo, que habita na Palavra, está presente nos sacramentos, vive no coração dos cristãos e fala quando oram, guia-os e presenteia-os com dons (carismas).

--E, tal como há um único Cristo, também só pode haver um único “corpo” de Cristo, uma única “esposa”. Em outras palavras, só pode haver uma única Igreja de Jesus Cristo. E, assim como o corpo possui muitos membros, também a Igreja de Cristo possui muitas Igrejas particulares, chamadas dioceses (CIC 811-816, 866, 870). Diz São Paulo: “Há um só corpo e um só Espírito, como também uma só esperança a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo. Há um só Deus e Pai de todos, o qual está sobre todos, por todos e em todos vós” (Ef 4, 4-6).

--Dadas estas características da Igreja, pode-se por fim refletir sobre a missão do Papa e perceber como ela é importante. Dentre seus discípulos, Cristo escolheu doze em especial e confiou a eles uma tríplice missão, que é também a da Igreja: ensinar Seus preceitos (Mt 28, 19-20), santificar através dos sacramentos (Mt 28, 19; Lc 22, 19; Jo 20, 23) e governar os fiéis em Seu nome (Mt 18, 17-18; Lc 10, 16). Esse número de apóstolos remete às doze tribos de Israel firmadas na antiga aliança. Na nova aliança, portanto, era necessário fundar doze “novas tribos”, espalhadas por toda a Terra.

--Uma vez que os apóstolos não viveriam para sempre, viram eles a necessidade de passar sua missão adiante e, através da imposição das mãos, instituíram seus sucessores nas comunidades que fundaram. Estes sucessores são os bispos ou epíscopos, e as comunidades foram as primeiras dioceses. E assim, ao longo do tempo, os sucessores dos apóstolos foram transmitindo o que receberam e espalhando a Igreja pelo mundo todo.

--A fim de auxiliá-los em suas dioceses, uma vez que não podem estar em todos os lugares e à disposição de todos os fiéis, os bispos instituem os padres ou presbíteros, que cuidam da evangelização de pequenas comunidades da diocese, chamadas paróquias.

--Dentre os apóstolos, havia um em especial a quem Jesus confiou o governo da Igreja (Mt 16, 18-20). Trata-se de Pedro, que ficou responsável pela diocese de Roma, onde ele também foi martirizado. E, uma vez que Pedro era o governante da Igreja após a ascensão de Jesus, Roma se tornou o ponto orientador da jovem Igreja. Chamamos Papa ao sucessor de São Pedro em Roma, possuindo a mais alta autoridade pastoral, quer doutrinal quer disciplinar (CIC 880-882, 936-937).

--Como autoridade pastoral superior, o Papa, representante de Cristo na Terra, é quem garante a transmissão da fé da forma como Jesus a transmitiu aos apóstolos. É por isso que os outros bispos não podem ensinar nem agir contra o Papa, mas o Papa pode, em determinados casos, tomar decisões mesmo sem a concordância dos bispos (CIC 880-890). E, justamente por ter a missão de garantir a integridade da fé transmitida por Jesus, o Papa conta com o auxílio especial do Espírito Santo, interpretando os acontecimentos do mundo segundo a Tradição Apostólica e as Escrituras para guiar corretamente os membros da Igreja. É por isso que dizemos que, em termos de fé e moral (ex cathedra), o Papa é infalível.

--Isso não quer dizer que o Papa nunca peca, muito pelo contrário. A infalibilidade Papal significa que, mesmo que ele seja o pior pecador do mundo, o Espírito Santo nunca deixará de auxiliá-lo no que concerne à fé e à moral da Igreja (Mt 28, 19). Tanto é verdade, que os Papas sabem que tudo o que disserem ex cathedra deve estar em consonância com a Tradição Apostólica e as Escrituras, nunca partindo de suas próprias convicções. A Igreja não é dos homens para que mudem suas leis como quiserem. Todos os princípios de fé e moral que seguimos nos foram dados por Jesus Cristo e nada pode ser acrescentado ou modificado. Tudo o que ocorre na modernidade deve ser interpretado pelo Papa segundo os ensinamentos que o Senhor deixou aos apóstolos.

--Neste quesito, o atual Papa tem sido uma figura controversa entre vários segmentos da Igreja, sendo por muitos taxado como “progressista”, “socialista”, “teólogo da libertação” etc., dada a quantidade de pronunciamentos voltados aos problemas sociais modernos. De seu lado, o Papa Francisco nunca mencionou seu posicionamento político, deixando claro que seus pronunciamentos estão em perfeito acordo com a Doutrina Social da Igreja, iniciada pelo Papa Leão XIII em 1891, muito antes do Concílio Vaticano II.

--O que precisa ficar claro aos católicos é que pouco importa a conduta pessoal de qualquer dos Papas que dirigiram a Igreja ao longo da História. Houve Papas muito santos, mas também houve outros muito pecadores, mas no que diz respeito aos pronunciamentos ex cathedra estão todos em unidade. Tanto é verdade, que nunca houve um Papa que anulasse o pronunciamento de algum de seus antecessores.

--O mesmo ocorre com o Papa Francisco. Um dos eventos mais recentes e controversos do qual ele participou foi o Sínodo para a Amazônia, realizado entre os dias seis e vinte e sete de outubro de 2019, onde foram defendidas uma série de medidas heréticas para a Igreja, como pode ser lido no Documento Final redigido ao final das discussões [1]. Entretanto, como seria de se esperar do sucessor de São Pedro, todas as heresias foram barradas e excluídas da Exortação Apostólica Pós-Sinodal, intitulada “Querida Amazônia”, promulgada pelo Santo Padre [2].

--Este ocorrido deve reacender nos católicos a esperança e a fé de que Deus cuida da Sua Igreja na pessoa do Papa, e que qualquer tentativa de incorporar doutrinas estranhas à nossa fé sempre será impedida pelo Santo Padre. Isto ressalta nosso papel como católicos em relação a ele: primeiro, rezar por suas intenções todos os dias, pois sem dúvidas trata-se de alguém que desagrada a demônios e pessoas mal intencionadas, de modo que não são poucas as suas batalhas espirituais. Segundo, devemos ouvir suas palavras e estarmos atentos a todos os seus pronunciamentos para que tenhamos sempre a certeza de que estamos seguindo verdadeiramente a Jesus Cristo e não caiamos em ciladas armadas pelos inimigos da Igreja.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Documento Final do Sínodo para a Amazônia. Disponível em: http://www.sinodoamazonico.va/content/sinodoamazonico/pt/documentos/documento-final-do-sinodo-para-a-amazonia.html. Último acesso em 02/04/2020.

  2. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia. Disponível em: http://www.sinodoamazonico.va/content/sinodoamazonico/pt/documentos/exortacao-apostolica-pos-sinodal--querida-amazonia-.html. Último acesso em 02/04/2020

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